"E a Copa de 2014...Ó "
O Brasil perdeu a Copa de 2014
Flávio Costa, técnico da seleção quase campeã do mundo em 1950, avisava: “O futebol brasileiro só evoluiu do túnel para dentro do campo”.
Seis décadas depois, o alerta continua cada vez mais assustador. Faltando pouco mais de três anos para voltar a sediar um campeonato mundial, o Brasil é o favorito disparado para pagar o maior mico da história do futebol: perder a Copa do Mundo sem entrar em campo.
Fora do túnel, em volta dele, nos estádios e nos aeroportos, o país mostra o desempenho amador de quem não tem competência, organização ou seriedade para uma empreitada de tal magnitude.
O improviso, a pedalada, a ginga, o drible, a finta, o logro e a malandragem são virtudes de nossos jogadores ovacionadas dentro de campo. Mas, nas mãos ligeiras de nossos cartolas e governantes, tudo isso vira motivo para vaia, escárnio e preocupação. O tom amador que o Brasil dedica à Copa de 2014 antecipa a desorganização, o fiasco e a corrupção que podem levar o desespero à torcida brasileira, que não merece tanta decepção e não deveria pagar pelo prejuízo.
Prontos, mas para a Copa da Rússia, em 2018
O ceticismo nasce dentro do próprio governo: o respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, divulgou um trabalho sobre a situação “alarmante” de 10 dos 13 maiores aeroportos das 12 cidades-sedes da Copa de 2014.
Sete deles, incluído o de Brasília, não saíram ainda da fase de projetos – e um aeroporto exige, até a sua inauguração, passando por licença ambiental e licitação, um prazo de maturação de 92 meses, mais de 7 anos e meio. Na conta do Ipea, nossos aeroportos só estariam prontos para a Copa de 2018, que vai acontecer na Rússia. “
A Copa de 2014 é amanhã, e o brasileiro pensa que é depois de amanhã”, criticou o presidente da FIFA, Joseph Blatter.
Nossa maior cidade, São Paulo, que ainda não dispõe de estádio para receber nenhum jogo do Mundial, tem o maior aeroporto do país ainda em estado crítico: inaugurado em 1985 com projeto para 4 terminais e 3 pistas, Guarulhos hoje funciona com apenas 2 terminais e 2 pistas, que não operam ao mesmo tempo. É a obra mais cara do país: 5 bilhões de reais para um aeroporto que só vai acabar muito depois da Copa.
Amadorismo e malandragem
Os burocratas querem driblar o problema com o velho jeitinho brasileiro: vão fazer um ‘módulo provisório’ no aeroporto, tradução elegante para o ‘puxadinho’ que vai enganar a FIFA e os 3 milhões de turistas extras que devem arriscar uma viagem ao Brasil em 2014.
O governo vai gastar 115 milhões de reais em ‘puxadinhos’ por aí, nada estranho para este país que inventou um imposto provisório em 1996, a CPMF, que morreu só 11 anos depois. Em apenas dez anos, o ‘puxadinho’ tributário engordou o Tesouro em 186 bilhões de reais, o suficiente para pagar 37 aeroportos como Guarulhos.
Na pressa de cumprir um calendário cada vez mais impossível, o governo Lula editou uma medida provisória para ‘flexibilizar’ o controle sobre as obras de infraestrutura, um sinal verde para o jogo bruto dos vigaristas que sempre faturam mais nas obras aceleradas com controle de menos.
O Brasil já conhece este estilo desde os Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio: orçados em 400 milhões de reais, acabaram custando dez vezes mais. A esculhambação endêmica e a corrupção crônica não permitem sonhar com a Copa de 2014.
Se ela sair do papel, será tão cara que o país não terá motivos para festejar qualquer vitória.
Mesmo que ganhe dentro de campo, o Brasil involuído do lado de cá do túnel estará irremediavelmente derrotado por seu próprio amadorismo e sua genuína malandragem.
Luiz Cláudio Cunha é jornalista
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