28 de abr. de 2011

Plantão-Denúncia

O desabamento do túnel, a metáfora e os fatos
 
 

Parte do túnel Cuncas I, que liga as cidades de Mauriti, no Ceará, e São José de Piranhas, em Pernambuco, desabou. A obra é parte da chamada transposição do rio São Francisco e foi o último canteiro visitado pelo então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
Vamos lá! Um petista estaria comemorado o desabamento de uma obra pública tocada pelo governo de São Paulo, por exemplo. Assim como essa gente não tem receio de sujar as mãos (ver post abaixo) em nome da causa, não reconhece limites para explorar politicamente um desastre. Os setores partidarizados da imprensa fazem o seu trabalho: a inauguração da estação Pinheiros do Metrô se transformou na “inauguração da estação da cratera”. É claro que o assunto tinha de ser lembrado, mas no título, de maneira reiterada, como se fez, já é uma escolha política.
Os trabalhadores reclamam das condições de segurança naquele canteiro da transposição. É improvável que a imprensa se interesse pelo assunto. O maior conflito trabalhista em décadas, ao menos o mais violento, irrompeu em Jirau sem notícia prévia e quase sem notícia posterior. A demissão de milhares de trabalhadores foi reportada como diminuição do aporte de mão-de-obra.
Para que uma pauta aconteça, ela tem antes de ser influente. Jornalistas precisam se interessar pelo assunto. Esse interesse também é determinado por afinidades eletivas. Com alguma freqüência, a reportagem é fruto de um lobby bem-sucedido, o que não quer dizer que o jornalismo participe necessariamente de uma conspirata ou que a matéria publicada não seja de interesse do público. Só estou lembrando que algumas notícias não caem apenas da árvore dos acontecimentos.
No momento em que Dilma Rousseff tem de se haver com a herança maldita do governo Lula (que também era governo Dilma), a tentação de ver no desabamento uma metáfora — ou metonímia — é grande. Mas isso serve mais à literatura do que aos fatos.
O que cabe ao jornalismo, isto sim, é visitar os canteiros de obras Brasil afora para que se saiba em que condições são executadas. O que nos falta nessa história toda e sair da fábula e ir para os fatos.
Por Reinaldo Azevedo

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