27 de abr. de 2011

"Palocci volta ao palco em nome da confiança"

 Ou:

Dilma tenta consertar as bobagens que ela mesma fez no sistema aeroportuário

Não se pode dizer que haja uma crise de confiança no governo Dilma, não ainda. Digamos que aumente em ritmo bastante acelerado a desconfiança. Desconfiança de que o governo não sabe o que fazer com a inflação — aquela de que a presidente se ocupa “diuturnamente” e “noturnamente” (não está claro se também “matinalmente” e “vespertinamente”); desconfiança de que o governo não vai conseguir cumprir o calendário das obras para a Copa do Mundo; desconfiança de que o modelo não mais funciona só na base da parolagem. Se é assim, algo tem de ser feito. E se fez! De imediato, decidiu-se que o ministro Antônio Palocci, o fiador do primeiro governo Lula junto aos mercados, tinha de sair da coxia e operar na ribalta. Seu papel de articulador dos bastidores, de conversador — com políticos, com empresários, com o mercado, com a imprensa —, já vinha se mostrando insuficiente. Os silêncios eloqüentes de Dilma, que a tantos encanta — e, confesso, a mim também, não sei se pelos mesmos motivos… —, já não dão mais conta do recado.
Coube ao ministro-chefe da Casa Civil, cuja tarefa era eminentemente política até outro dia, fazer o anúncio principal na reunião de ontem do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social: o governo vai lançar, no início do mês que vem, editais propondo a concessão à iniciativa privada dos aeroportos de Guarulhos (SP) e de Brasília. No fim de maio, será a vez de Viracopos (Campinas-SP). No fim de junho e início de julho, saem o de Confins (MG) e o do Galeão (RJ). A empresa que vencer a licitação executa as obras necessárias — terminais, pistas, infra-estrutura, ligação com outros meios de transporte  — e depois explora os serviços: aluguel de lojas, tarefas aeroportuárias etc. Que nome isso tem? Privatização!
Por que foi Palocci a anunciar a medida? Para tentar dar credibilidade à decisão. Os petistas passaram oito anos rejeitando a participação da iniciativa privada no sistema aeroportuário — cinco dos quais sob o comando da então superministra Dilma Rousseff. Chega a ser irritante, não fosse ridículo, ter de ler que a agora presidente está brava com o atraso nas obras. Ora… Durante a campanha eleitoral, aprendemos com a “professora” Dilma, que esse papo de iniciativa privada é coisa de tucano. Os petistas ganharam três eleições presidenciais satanizando as privatizações. Recordar é não passar recibo de idiota. É preciso confrontar a Dilma que decidiu privatizar aeroportos com a Dilma candidata. Assistam a este vídeo.



Como se vê acima, ela nem mesmo reconhece os benefícios da privatização da telefonia. Na sua cabeça de Dilma, o brasileiro só passou a ter renda — e, pois, telefone — no governo do PT. Não é tema deste post, mas não resisto: em 1997, havia 17 milhões de linhas fixas no país e 4,5 milhões de celulares. A Telebras foi privatizada em 1998. Em 2003, ano em que Lula chegou ao poder, os fixos já eram 38,8 milhões, e os móveis, 35,2 milhões. Voltemos ao ponto. Em sua retórica eleitoreira, como vocês podem perceber, as privatizações são um mal para o país. Neste outro vídeo, o proselitismo é ainda mais virulento; os adversários são chamados de “turma do contra”. Nota: nunca ninguém propôs, no tucanato, a privatização da Petrobras.



Mas é no vídeo abaixo que a o estilo “enrolation” atinge o estado da arte. Assistam até os 3min36s. 



Depois de oito anos no poder, a candidata Dilma Rousseff culpou os governos passados pela falta de investimentos nos aeroportos. E por que não apelar ao capital privado? Ela não responde. Segundo disse, a solução era a abertura do capital da Infraero, num modelo similar ao da Petrobras. Mas não era a solução imediata, dizia ela há seis meses. “Imediatamente, a Infraero tem dinheiro suficiente para fazer os investimentos através de, por exemplo, módulos (…) Ocê não faz aeroportos só no sentido tradicional…”
Entendo…
Por que relembrar esses vídeos? Porque é preciso evidenciar que o desastre nos aeroportos não foi uma determinação da natureza ou uma irrupção de irracionalidade nesse mercado; ele foi meticulosamente construído pela incompetência petista — em particular, a de Dilma Rousseff, que respondia pelo setor. A presidente decidiu privatizar? Antes assim; antes tarde do que nunca! Aplaudo! Que tente corrigir as bobagens que ela mesma protagonizou na área.
Encerro
Palocci volta à ribalta para tentar tirar o governo daquele autismo virtuoso cantado em farta prosa jornalística — logo começariam os versos. Vamos ver. Daqui a pouco, é possível que seja necessária uma voz com mais credibilidade para falar também sobre economia…
Por Reinaldo Azevedo

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