6 de abr. de 2011

Palocci, o prestador de serviços gerais

 

No momento em que o Mercosul completa 20 anos, vale relembrar um encontro de 2005 entre o ministro Palocci, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos John Snow e o presidente Lula, conforme relatado em telegrama da embaixada dos Estados Unidos em Brasília e vazado pelo WikiLeaks:

CONFIDENTIAL
SIPDIS STATE PASS USTR FOR LEZNY/YANG NSC FOR CRONIN STATE PASS TO FED BOARD OF GOVERNORS FOR ROBITAILLE USDOC FOR 4332/ITA/MAC/WH/OLAC/JANDERSEN/ADRISCOLL/MWAR D USDOC FOR 3134/ITA/USCS/OIO/WH/RD/DDEVITO/DANDERSON/EOL SON TREASURY FOR DAS LEE AND F.PARODI E.O. 12958: DECL: 08/11/2015
TAGS: EFIN, ETRD, ECON, PREL, BR
SUBJECT: SECRETARY SNOW’S AUGUST 1-3 MEETINGS IN BRAZIL – TRADE THEMES
Classified By: Charge d’Affaires Patrick Linehan, reasons 1.5 (b) and ( d)
1. (C) Resumo : Durante seus encontros bilaterais em Brasília e na sessão do Grupo para o Crescimento (GfG) no Rio de Janeiro, o secretário do Tesouro [John] Snow enfatizou a importância da liberalização comercial para aumentar a produtividade e o crescimento econômico. Empresas brasileiras e americanas que participaram do café-da-manhã com o Secretário e o ministro da Fazenda Palocci da mesma forma pediram maior integração comercial e uma reenergização das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (FTAA). Em seu encontro privado e mais tarde com o presidente Lula, Palocci enfatizou a importância que ele coloca no aumento do comércio como motor do crescimento. De fato, no encontro com Lula, Palocci se ofereceu para encabeçar um esforço para dar novo impulso às negociações comerciais, particularmente na área dos serviços financeiros, num aparente esforço para incentivar o Ministério das Relações Exteriores a assumir uma posição pró-ativa nas negociações. Lula se opôs. Fim do resumo.
2. (U) Background: O Secretário do Tesouro Snow visitou o Brasil entre 31 de julho e 3 de agosto de 2005, para participar da quarta sessão bilateral do Grupo para o Crescimento, uma consequência da cúpula de 2003 entre os presidentes Bush e Lula. O Secretário Snow teve encontros bilaterais em 1 de agosto com o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda Palocci e o presidente Lula, além de um encontro com investidores brasileiros.
No Rio de Janeiro, em 2 de agosto, o Secretário participou de encontros do Grupo para o Crescimento (inclusive em um café-da-manhã de negócios), fez um discurso patrocinado pelo Conselho Brasileiro para Relações Exteriores (CEBRI) e fez uma mesa redonda com representantes do setor de serviços financeiros.
Em 3 de agosto, em Vitória, capital do estado brasileiro do Espírito Santo, o Secretário enfatizou os temas dos investimentos privados em infraestrutura SIPDIS e falou sobre a importância da boa governança em visita ao porto de Tubarão e em almoço de trabalho com o governador Hartung e empresários locais. O Secretário concluiu sua estada em Vitória com uma visita a uma favela (bairro pobre) do SIPDIS que se beneficiou de um projeto de serviços básicos financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB), que tinha o objetivo de oferecer água corrente, ligações de esgoto e pavimentação de ruas. Este telegrama cuida das discussões relacionadas ao comércio; questões macroeconômicas e financeiras serão reportadas separadamente.
Business Wants Trade Liberalization
3. (SBU) Representantes empresariais destacaram a urgência de foco renovado em negociações comerciais durante o café-da-manhã do GfG em 2 de agosto, que teve a presença do Secretário [do Tesouro] e de Palocci. Benny Parnes (um ex-diretor do Banco Central) do Banco BMG destacou a necessidade de maior integração comercial entre os Estados Unidos e o Brasil, especificamente notando as vantagens que o México obteve no NAFTA. Roger Agnelli da gigantesca mineradora CVRD observou que o Brasil e os Estados Unidos tem economias complementares que ganhariam substancialmente com a integração. Nelio Weiss da Price Waterhouse Coopers acrescentou que muitos clientes brasileiros tinham começado a investir na América Central com o objetivo de conseguir maior acesso ao mercado dos Estados Unidos sob o recentemente aprovado CAFTA.
Secretary Snow/Minister Palocci SIPDIS
4. (C) Durante o encontro bilateral de 1 de agosto, o secretário notou a importância da liberalização do comércio para promover o crescimento. Ele declarou que a recente aprovação legislativa do CAFTA demonstrava que o governo dos Estados Unidos ainda tinha a força política necessária para manter a política de livre comércio. O USG quer, disse o secretário, usar aquele impulso tanto para as negociações de FTAA [Free Trade Area of the Americas, ou ALCA] quanto para a rodada Doha da Organização Mundial de Comércio. Com respeito a esta última, ele expressou decepção quanto à resposta limitada aos pedidos de liberalização do comércio na área dos serviços financeiros.
5. (C) Palocci atestou que as condições eram favoráveis à renovada liberalização nos contextos da Organização Mundial de Comércio e do FTAA. O presidente Lula, disse Palocci, tinha uma visão aberta quanto ao comércio e a visita do secretário [a Lula] poderia ajudar a renovar o impulso. O embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Roberto Abdenur (que participou da maior parte dos encontros do secretário) reafirmou a (antiga) posição do governo brasileiro de que está pronto para as negociações de acesso comercial do quatro mais um (Mercosul-Estados Unidos), dada a falta atual de progresso no FTAA.
Snow/Lula
6. (C) Durante o encontro do secretário com o presidente Lula, Palocci reportou sobre a substância dos encontros anteriores. Palocci argumentou novamente que as condições estavam dadas para a retomada da agenda comercial e se ofereceu para liderar um esforço interagência do governo do Brasil para reconstruir o momentum para as negociações comerciais, particularmente em serviços financeiros. Lula não respondeu especificamente à proposta de Palocci.
7. (C) Comment: O pedido de Palocci por um mandato presidencial para fazer avançar a agenda do comércio, que continua sob domínio exclusivo do ministério das Relações Exteriores, foi provavelmente motivada por um desejo de aumentar o crescimento da economia. Com a agenda da reforma microeconômica paralisada no Congresso obcecado por escândalos, incentivar a liberalização comercial é uma das poucos opções de reforma econômica que restam a Palocci. Que Lula não tenha atendido [Palocci] demonstra a posição entrincheirada do Itamaraty e a própria distração de Lula com os escândalos de corrupção.
8. (U) This cable was cleared by Treasury. LINEHA

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