França lança operação contra ilegais
Imigrantes do Norte da África são caçados pela polícia nas principais cidades francesas; objetivo é mandá-los de volta a seus países de origem
Jamil Chade
Michel Euler/AP
Sob risco. Tunisianos em Paris: praças viram dormitório
A polícia francesa lançou ontem uma operação nas principais cidades do país para prender e expulsar imigrantes ilegais, um dia depois que Paris propôs uma revisão das leis de livre circulação na Europa. Em Nice, imigrantes do Norte da África e ONGs de direitos humanos confirmaram ao "Estado" que pelo menos dez tunisianos foram levados pela polícia. Em Paris, 60 foram presos por dormir em área pública.
Segundo a polícia, os imigrantes detidos terão a possibilidade de voltar gratuitamente a seus países de origem. Muitos cruzaram o Mediterrâneo em pequenos barcos, correndo risco de vida. "Se não aceitarem, serão julgados e podem ser forçados a embarcar de volta", disse ao Estado um assessor da polícia francesa.
Centenas de imigrantes da Tunísia que chegaram de barco à Itália têm tentado cruzar a fronteira com a França. Paris, porém, exige que cada um prove que tem uma renda mensal de 2 mil euros para autorizar a entrada, o que significa, na prática, um fechamento da fronteira.
Os que conseguiram furar o bloqueio já se deram conta de como a vida será difícil. Em Nice, muitos imigrantes recebem comida e roupas de ONGs de defesa dos direitos humanos, mas nem todos conseguem lugar para dormir.
Uma praça no centro de Nice transformou-se em dormitório dos imigrantes. O tunisiano Hirzi Hichem contou que escapou da polícia ontem porque já estava acordado quando as prisões começaram, às 6 horas.
"Às vezes, durmo em bancos de praça. Mas, assim que o sol chega, não consigo mais fechar os olhos. Hoje (ontem), decidi andar na praia e, quando voltei para a praça para receber comida, meus colegas já haviam sido levados."
Hichem disse que há cinco semanas dorme em praças em diversas cidades. "Cheguei de barco em Lampedusa e lá nos colocaram em um centro de detenção. Depois, fui transferido para Bari, de onde conseguiu escapar."
Desde o dia 23 de março ele tenta chegar a Paris, onde diz ter um conhecido que tem um armazém de comida árabe. No entanto, o dinheiro acabou e ele espera que, nos próximos dias, seus irmãos lhe enviem mais da Tunísia, para que ele possa pagar uma passagem de trem.
"Não somos criminosos. Fugimos de muitos crimes em nossos países e só queremos trabalhar", disse. "Não sei onde vou dormir hoje. Não quero ser mandado de volta, depois de tudo o que passei."
Em Paris, as prisões envolveram egípcios, líbios e argelinos, além de tunisianos. Uma associação local de imigrantes decidiu acionar um escritório de advocacia para defender os estrangeiros. "Não há razão para as prisões. Se eles estão dormindo em locais públicos é porque o governo não está ajudando", disse a advogada Samia Maktouf.
Escala. A prefeitura de Paris decidiu liberar 100 mil euros para que ONGs ajudem os imigrantes. O valor, porém, pode não ser suficiente. Mais de mil líbios, por exemplo, preferiram acampar em uma das estações de trem da capital, esperando a chance de pegar um trem para a Grã-Bretanha, onde acreditam que terão mais oportunidades.
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