Há uma chance de o Peru se livrar do desastre.
Candidato chavista tem como assessor os petistas Favre e Pomar, do Foro de São Paulo
O Peru realizou ontem eleições presidenciais. Com 50,53% dos votos apurados, informam os sites dos jornais peruanos nesta madrugada, o populista Ollanta Humala, da coligação “Gana Peú”, lidera a disputa, com 27,74%. Em segundo lugar, aparece o ex-ministro da economia Pedro Pablo Kuczynski, de tendência liberal, da “Alianza por el Gran Cambio”, com 22,91%. Logo atrás, vem a deputada Keiko Fujimori, da “Fuerza 2011″, com 22,07%. A disputa vai se decidir no segundo turno. O resultado surpreende. As pesquisas de boca de urna apontavam Humala na casa dos 31%; Keiko teria algo em torno de 22% mesmo, mas Kuczynski aparecia com 19%. Quem sabe o país se livre do desastre. Por que escrevo isso?
Humala, do PNP (Partido Nacionalista Peruano), é chavista de carteirinha, mas, na campanha, decidiu jurar fidelidade às regras do mercado e à democracia e diz que sua referência não é mais o Beiçola de Caracas, mas o Apedeuta do Brasil. Chávez é odiado no Peru, e Lula, admirado. O homem contratou como seus principais assessores de campanha os petistas Luis Favre, ex-marido de Marta Suplicy, e Valter Pomar, ex-secretário de Relações Internacionais do PT e secretário-geral do Foro de São Paulo, que reúne partidos de esquerda e extrema esquerda da América Latina. O argentino que se diz francês estar por lá pode até fazer algum sentido comercial — afinal, ele precisa trabalhar… A presença de Pomar, no entanto, é mais significativa: PNP e PT são parceiros no Foro. Pomar decidiu gerenciar pessoalmente a disputa.
Embora seja identificado com as esquerdas e fale a “linguagem do povo”, Humala não teve problema para arranjar dinheiro. É o candidato que fez a campanha mais cara: cerca de 8 milhões de soles — uns US$ 2,8 milhões. Pode não ter entusiasmado o empresariado peruano, mas, como se percebe, não lhe faltam amigos no continente! Vamos ver se o Peru se mantém no rumo, saindo do atoleiro da pobreza, ou se decide recuar, mergulhando de novo no caos. O país vem crescendo a taxas de mais de 5% há alguns anos — em 2010, passou de 7%. Humala acusa o governo Alan García de não ter distribuído renda, embora haja uma sensível melhora nos indicadores sociais.
García não poderia concorrer à reeleição, e seu partido, o Apra, acabou não indicando um candidato. Na reta final, recomendou voto no empresário Kuczynski, ex-ministro da economia, de tendência liberal. A terceira colocada é a filha do ex-presidente e ex-tiranete Alberto Fujimori, que cumpre pena de 25 anos de prisão. Keiko convocou para a batalha os admiradores do pai e disse que foi ele quem preparou o bom momento econômico por que passa o país ao ter domado a hiperinflação e desmantelado o Sendero Luminoso.
Diante da possibilidade aterradora de um confronto entre Humala e Keiko, o escritor Vargas Llosa resumiu: “É como ter de escolher entre o câncer e a AIDS”. A imagem pode não ser muito feliz, mas dá conta do risco. Se Kuczynski passar mesmo para o segundo turno, há uma chance de o país continuar no rumo certo. A eleição vai se dar só no dia 5 de junho. Quem sabe, até lá, haja tempo de contar aos peruanos que a inspiração de Humala não é exatamente Lula, mas os esquerdopatas do Foro de São Paulo. Se, no entanto, for Keiko a se defrontar com o chavista, então Deus tenha do Peru a piedade que os peruanos não tiveram.
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