31 de mar. de 2011

Bolsonaro diz que não teme ser cassado por causa de depoimentos racistas



Agência Brasil
Brasília - O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse (30) que não teme ser cassado por causa de comentários racistas feitos em programa de televisão na última segunda-feira (28). “O soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde. Eu estou aqui para expor as minhas ideias”, disse. Ele justificou que entendeu a pergunta errada ou houve problemas de edição da produção do programa.

Bolsonaro também disse que não tem medo de ser destituído da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. “Quem manda na minha cadeira é o líder do meu partido. Ele é quem decide, eu não saio de lá. Estou lá para não ter uma comissão só voltada para a demagogia e para defender interesses de quem está à margem da lei, como presidiários. Eu nunca vi defenderem direitos de famílias de vítimas de assassinos”.

Ontem (29), uma representação assinada por 20 deputados foi protocolada na Mesa Diretora da Câmara pedindo que a Corregedoria da Casa investigue Bolsonaro pelos comentários racistas. Os parlamentares pedem também que ele seja destituído pelo seu partido da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

Sempre polêmico em suas declarações, o parlamentar afirmou que vai lutar contra a Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), que foi criada recentemente na Câmara. “O que ela tem para nos oferecer? Casamento entre gays? Adoção por homossexuais? Alguém quer isso? Onde está a família em nosso país? Sem família não somos nada, somos um bando”.

Hoje (31) a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção do Rio de Janeiro, encaminhou representação à Corregedoria da Câmara dos Deputados para que seja aberto processo contra Bolsonaro por quebra de decoro parlamentar.

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As seis representações recebidas até agora contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) poderão ser reunidas num único processo, segundo o corregedor da Câmara, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). As representações foram feitas por causa de comentários supostamente racistas de Bolsonaro durante o programa CQC, da TV Bandeirantes, exibido na segunda-feira (28).

O corregedor disse que ainda não recebeu os pedidos de investigação, nem conhece o caso, mas garantiu que o fato de pertencer ao mesmo partido de Bolsonaro não vai influenciar seu julgamento. "A Corregedoria não tem amigo, nem inimigo, nem partido político; ela vai agir de acordo com o regimento e a Constituição", disse.

Durante o programa CQC, em resposta à cantora Preta Gil, que perguntou ao deputado o que ele faria se seu filho se apaixonasse por uma mulher negra, Bolsonaro respondeu: “Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”. O deputado garantiu não ser racista e alegou que entendeu errado a pergunta. Bolsonaro disse que achou que a cantora havia questionado o que ele faria se seu filho tivesse um relacionamento gay, e não se namorasse uma mulher negra.

O parlamentar pediu ontem sua própria convocação pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara para esclarecer o caso. "Tenho funcionários negros, minha esposa é afrodescendente e o meu sogro é mais negro que mulato", ressaltou.


Direitos humanos

Uma das representações conta com a assinatura de 20 deputados e foi elaborada na terça-feira (29) numa reunião com a presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS).

Além disso, pedidos de investigação por crime de racismo e violação dos direitos humanos foram enviados pelo grupo para a Procuradoria-Geral da República, para o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e para o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Para Manuela D’Ávila, o comportamento de Bolsonaro há muito tempo é incompatível com sua atuação na comissão. Por isso, ela mesma pediu a substituição de Bolsonaro no colegiado ao líder do PP, deputado Nelson Meurer (PR), a quem cabe a indicação das vagas do partido em cada comissão. A liderança já recebeu o documento, mas Meurer estava em trânsito e ainda não tem uma resposta.


Outras representações

Duas representações foram feitas de forma individual pelos deputados Edson Santos (PT-RJ) e Luiz Alberto (PT-BA). O ouvidor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Carlos Alberto Júnior, também apresentou pedido de investigação.

As outras representações foram feitas nesta quarta-feira à tarde pela OAB-RJ e pela procuradora feminina da Câmara, deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), e suas três adjuntas, deputadas Rosinha da Adefal (PTdoB-AL), Flávia Morais (PDT-GO) e Sandra Rosado (PSB-RN).

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