27 de abr. de 2011

DENÚNCIA-Paraguai

Especialistas alertam sobre perigos que correm zonas úmidas


De um lado está o desenvolvimento produtivo do agronegócio e do outro, os impactos ambientais. O fato é que o meio ambiente sofre com as intervenções que visam à exploração e o lucro. Exemplo disso são as zonas úmidas de Ñeembucú, no extremo sudoeste do Paraguai, que estão sofrendo danos pelo aumento da atividade agropecuária e uso abusivo de agrotóxico nas plantações de arroz na região. Segundo os especialistas, a região corre perigo também por causa dos desvios do curso das águas para irrigação.

As zonas úmidas de Ñeembucú integram mais de 1 milhão de hectares ricos em biodiversidade e reservas de água. Essa região é composta por rios, córregos, riachos, lagoas e nascentes, que são afloramentos naturais do Aquífero Guarani, um reservatório subterrâneo de água doce que se estende no subsolo da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sendo assim, um local estratégico para a produção agrícola dos quatro países que integram o Mercado Comum do Sul (Mercosul).

Especialistas afirmam que o avanço das fronteiras agrícolas e os desvios do curso natural das águas já provocaram a destruição de diversas espécies de plantas, animais e a contaminação do meio ambiente. Vale destacar que o desvio do curso natural das águas provoca a destruição de nichos naturais de desova de peixes, plantas aquáticas, crustáceos entre outros seres.

O professor e integrante do Movimento Ecológico das Zonas Úmidas do Sul, José Alfredo Salinas Daiub, explicou que o problema se agrava com o aumento da exportação de sementes como soja, girassol, trigo, milho, arroz e outras, cujas produções enquadradas no agronegócio, estão em expansão, e, consequentemente, causando um maior uso de fertilizantes e pesticidas para conter as pragas nos cultivos.

Devido à expansão da agricultura mecanizada e ao crescimento das plantações de arroz, sem licença ambiental, a população da região já reclama sobre os impactos causados por estas atividades. Em 2007, começaram a surgir os primeiros movimentos populares pedindo o direito de viver em um ambiente saudável e natural. A União de Organizações Cidadãs do Ñeembucú (UOCÑ) tem se esforçado para proteger a região, promovendo ações sob o lema "Salvemos as zonas úmidas”.

Em 2009, as organizações populares realizaram uma série de audiências públicas em todos os distritos do departamento para discutir sobre o problema que afeta centenas de famílias, e exigir providências das autoridades. Depois destas ações, a UOCÑ afirmou que surgiram mensagens claras e significativas de que é necessário avançar urgentemente em um modelo de desenvolvimento sustentável e saudável, que seja compatível com o desenvolvimento agropecuário.

Um dos resultados dos esforços da União de Organizações Cidadãs do Ñeembucú foi que a comissão Nacional de Defesa dos Recursos Naturais do Senado elaborou, no final do mês de março, a declaração das zonas úmidas como área de proteção internacional.

O próximo passo é a apresentação de um projeto para modificar a Lei de Recursos Hídricos e ampliar o capítulo que se refere à conservação e gestão das zonas úmidas. O objetivo é conseguir incluir as zonas de Ñeembucú na Convenção Ramsar, um acordo internacional para a conservação deste sistema.

Mas para isso, serão necessárias várias ações que incluem iniciativas de ordenamento territorial, aumento das capacidades locais e alternativas de desenvolvimento para a região.
Com informações de Notícias Aliadas. 

Tatiana Félix
Jornalista da Adital


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