28 de mar. de 2011

Usinas nucleares de Angra suportam queda de avião e terremoto, mas rota de fuga preocupa

Plano de emergência prevê retirada das pessoas em um raio de 5 km

Marina Novaes e Thiago Faria,
Marcos de Paula/22.03.2011/Agência Estado 
Marcos de Paula/22.03.2011/Agência Estado
Ambientalistas protestam contra a manutenção das obras de Angra 3 e pedem revisão 
do plano de emergência
O recente acidente nuclear na cidade japonesa de Fukushima reacendeu a preocupação em torno da segurança de Angra 1 e 2, as usinas nucleares brasileiras, localizadas no Rio de Janeiro. No Japão, foram necessários um terremoto de 8,9 graus na escala Richter  e um tsunami para gerar um acidente nuclear, mas o que aconteceria no Brasil se ocorresse o mesmo?
Embora sejam remotas as chances de o país ser atingido por catástrofes naturais como as que devastaram parte do Japão, as usinas brasileiras têm capacidade para suportar um terremoto de até 7 graus na escala Richter ou mesmo a queda de avião de grande porte sobre suas estruturas, segundo informações da Eletrobras Eletronuclear (empresa que administra as usinas de Angra).
Mesmo sendo incomum a ocorrência de grandes tremores de terra no Brasil, a central nuclear de Angra possui uma estação sismográfica para identificar e monitorar a ocorrência de abalos sísmicos.
Ainda de acordo com a administração de Angra 1 e 2, as usinas também têm “numerosas barreiras protetoras de aço e concreto” para protegê-las de outros impactos externos, como maremotos e tsunamis, inundações e explosões. 
Críticas
Mas, mesmo com toda essa “parafernália” para proteger os reatores nucleares, o maior alvo de críticas de ambientalistas e políticos é o plano de emergência para evacuar a região – que reúne Corpo de Bombeiros, Ministério da Defesa, além dos governos e a Eletronuclear, entre outros órgãos.
Um dos pontos que mais preocupa é a principal rota de fuga da cidade: a rodovia Rio-Santos (BR-101), que frequentemente sofre bloqueios em decorrência de deslizamentos de terra.
O ambientalista Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace no Brasil, questiona a viabilidade de retirar a população da área por terra, em caso de uma tragédia nuclear.
- Quem já foi pra região de Angra, Paraty e arredores sabe da precariedade dessa rota. Mesmo sem qualquer acidente nuclear, só com o excesso de chuvas e deslizamentos, a gente tem ali uma situação completamente caótica.
O coronel Jerri Andrade Pires, superintendente operacional da Defesa Civil do Rio – responsável pela coordenação do plano de emergência de Angra –, rebate as críticas e diz que a estrada foi reformada.
- Realmente, a Rio-Santos tinha problemas, mas há dez anos. Ela não é ruim, ela estava ruim. Mas aí o governo federal, por meio do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], e a própria Eletronuclear, fizeram um recapeamento do local, que foi todo recuperado e sinalizado.
Pires admite que não há como evitar queda de barreiras na estrada, mas diz que a limpeza e liberação da pista é feita com rapidez, e nega que isso comprometa o plano. O coordenador de Comunicação e Segurança da Eletronuclear, José Manuel Diaz Francisco, também cita como outra opção a rodovia estadual RJ-155, uma estrada auxiliar normalmente utilizada quando a Rio-Santos tem interdições.
Outra “falha” é a ausência de um grande aeroporto na cidade, que possui apenas um terminal com capacidade para aviões de pequeno e médio porte, como aponta o ex-prefeito de Angra dos Reis (2001 a 2008) e deputado federal, Fernando Jordão (PMDB-RJ).
- O que tem lá é uma brincadeira. Temos duas usinas, a caminho da terceira, e não temos um aeroporto decente em Angra que possa receber técnicos, retirar pessoas com helicópteros e aviões grandes.
Resgate e treinamento
Apesar das críticas, o coronel lembra que o plano de emergência prevê a retirada de moradores dentro de um raio de 5 km, o que pode englobar até 20 mil pessoas durante a alta temporada (no verão), e não da cidade toda.
Segundo ele, todo o processo para a saída das pessoas levaria em torno de uma hora, já que a população é orientada a seguir para pontos de encontro pré-estabelecidos, onde haveria ônibus à sua espera. E, caso a fuga por terra não seja possível, a Marinha dispõe de embarcações para o resgate pela costa de Angra, para a retirada pelo mar.
Embora a Defesa Civil e a Eletronuclear praticamente descartem a necessidade de retirada total da população da cidade - que tem cerca de 170 mil habitantes - , a falta de abrigos com tecnologia anti-radiação e o tamanho da área esvaziada também levantam polêmica.
Para o coordenador do Greenpeace, o Brasil deveria evacuar a população dentro de um raio mínimo de 20 km, como foi feito na cidade japonesa. Já o ex-prefeito da cidade cobra a fabricação de um bunker (uma espécie de abrigo de concreto, que pode ser subterrâneo) no município.
- Precisa fazer abrigos adequados, ou você acha que as escolas que têm lá são hermeticamente fechadas? Não são.
Por outro lado, os órgãos responsáveis argumentam que a tecnologia de segurança das usinas – que param de funcionar automaticamente em caso de algum problema grave – garante que a radiação não vaze para fora das zonas de segurança, divididas por raios de 3, 5, 10 e 15 km.
O engenheiro nuclear Antonio Carlos Marques Alvim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e com PhD em energia nuclear no MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos), lembra que as áreas de proteção da região não foram criadas a partir de números “aleatórios”.
- O plano de emergência é feito com base em um cálculo de como vai se dispersar o material radioativo, mas cada cenário é diferente e qualquer decisão tem que ser técnica. Porém, se aqui ele contempla 5 km de raio [para a retirada da população], não foi uma coisa aleatória, foi uma coisa estudada.
Apesar das divergências e críticas, especialistas, ambientalistas e poder público concordam que o acidente de Fukushima deve promover uma reavaliação das medidas de segurança adotadas pelo Brasil, que pretende expandir seu programa nuclear, com a criação de Angra 3 e outras quatro usinas.

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