México
Povos realizam campanha contra exploração de mina de prata
Camila Queiroz
Adital
As autoridades agrárias e tradicionais do povo Wixárika dos estados mexicanos de Jalisco, Nayarit e Durango estão promovendo a campanha "Parem as minas e protejam sítios históricos sagrados” contra a exploração da mina de prata no povoado de Real de Catorce, em San Luis Potosí. Os indígenas temem a profanação da rota antiga e sagrada da peregrinação wixárika, protegida pela Reserva Ecológica e Cultural de Wirikuta, além de outros impactos sócio-ambientais.
A campanha pede que o apoiador envie uma carta ao presidente do México, Felipe Calderón, expressando preocupação com os danos que podem ser causados pela exploração da mina pela empresa canadense First Majestic Silver Corporation.
Os organizadores pedem ainda que se questione, na carta, o que o governo pretende fazer para proteger de forma permanente os valores sagrados e naturais da Reserva Ecológica e Cultural de Wirikuta.
Criada em 1994, a Reserva Ecológica e Cultural de Wirikuta é reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco) como um dos 14 Sítios do Patrimônio Mundial por seu valor cultural e ecológico. Contudo, isto não impediu que o governo concedesse em torno de 15 concessões para exploração mineira dentro da reserva. A veia mais visada pela First Majestic está bem próxima do lugar mais sagrado para o povo Wixárika.
"É hora de insistir na proteção verdadeira da Reserva de Wirikuta e ir mais além de simples palavras escritas em um papel. Por favor, responda ao chamado do povo Wixárika e envie cartas às autoridades mexicanas hoje”, pedem.
A população se mobiliza porque já conhece a história. Entre os séculos XVIII e XIX, 225 milhões de onças de prata foram extraídas, o que acabou por transformar um bosque em deserto e contaminou a pouca água disponível.
A partir do método da lixiviação com cianeto, a First Majestic Silver estima que conseguirá extrair quantidade quatro vezes superior do metal. Serão cerca de 20 quilômetros de novas veias.
Um sério impacto apontado pelos indígenas terá efeitos sobre a água, escassa, pois a região é semi-desértica. A mina consumirá, em um dia, o que uma família de camponeses consumiria em 25 anos.
A escavação a céu aberto contaminará o ambiente com resíduos ácidos e metais pesados, que podem permanecer durante séculos. Já a erosão, a construção de estradas e a dinamitação de áreas afetarão as pessoas, a flora e a fauna. A conhecida diversidade de aves da região – que abriga 16 espécies ameaçadas de extinção – poderá diminuir sensivelmente. O lugar também exibe a maior diversidade de cactáceos do mundo.
"Majestic proclama ser uma empresa ‘ecológica', mas as regulamentações de mineração do México são patentemente negligentes. Outra companhia mineira canadense no mesmo estado de San Luis Potosí seguiu operando durante anos, apesar de recursos jurídicos que ordenam o término imediato de suas operações. Vazamentos de cianeto ocorrem seguidamente”, denuncia a campanha, esclarecendo a importância de barrar a mina antes que a exploração tenha início.
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