26 de mar. de 2011

Iêmen é o próximo da fila na luta por liberdade no mundo árabe

País da península Arábica se revolta contra regime de 32 anos que não o tirou da pobreza
Paula Resende

Muhammed Muheisen/25.03.2011/AP 
Muhammed Muheisen/25.03.2011/AP
Crianças iemenitas se destacam entre manifestantes anti-governo 
nas orações desta sexta-feira, que exigiram a renúncia do presidente 
Saleh, em Sanaa
Como muitos no norte da África e Oriente Médio, o Iêmen faz coro aos países em revolução na fila por mais liberdade, respeito aos direitos humanos e melhorias sociais. A exemplo da Tunísia, Egito e Líbia, sua população pode estar prestes a ver seu presidente Ali Abdullah Saleh longe do poder – algo inédito nos últimos 32 anos.

Saleh passou por uma sequência de promessas que traçam um caminho cada vez mais distante do governo. Primeiro, a resistência, depois a promessa de não se reeleger, a transferência pacífica do poder no começo de 2012 e, por último, a oferta de uma renúncia sob algumas condições nesta sexta-feira (25).


Para o britânico Arshin Adib-Moghaddam, acadêmico da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, o presidente pecou por concentrar todo o sistema político em torno de sua figura.


- O Iêmen é um dos países mais pobres da região com escassos recursos econômicos e políticos. Em oposição ao Egito e Tunísia, não há nacionalismo forte, apoiando a ideia de um país unido. Saleh concentrou todo o sistema político em torno de uma pessoa e agora perdeu o apoio de sua população.


Sistema político fraco é terreno fértil para extremistas
Apesar de ainda possuir um governo central, o Iêmen é uma nação com uma organização política arcaica, retalhado por diversas tribos com costumes e ideologias diferentes, lembra o pesquisador sênior Yoel Guzansky, do Instituto de Estudos sobre Segurança Nacional (INSS), em Tel Aviv, Israel. 

O cenário de aparente desordem e instiuições fracas favorecem, apontam os especialistas, para a atuação de organizações extremistas islâmicas e terroristas, como a Al Qaeda, fundada por Osama bin Laden.

O pesquisador do grupo de estudos em Terrorismo do INSS, Yoram Schweitzer, explica que o braço da Al Qaeda no Iêmen não recebe ordens diretas de Bin Laden, mas já provou ser uma organização “eficiente” que tende a articular ações fora da região - como o ataque frustrado a um avião que viajava de Amsterdã a Detroit no Natal de 2009.


- Com o colapso de um governo central, ou a divisão do país, será mais fácil para que esse grupo profissional e de sucesso, opere e cresça com mais liberdade.


Especialista espera ver transição sem terroristas


Mais otimista, Adib-Moghaddam afirma que existem remanescentes da Al Qaeda no Iêmen, “mas eles não têm qualquer significado político para o processo que está se desenrolando”.


- É provável que o país terá um governo de transição composto por todas as forças de oposição, apoiado pelos militares até a convocação de eleições.
Os manifestantes já completaram seis semanas acampados em frente à Universidade de Sanaa, na capital de mesmo nome. Uma série de generais, diplomatas e líderes tribais tiraram seu apoio ao governo e os jovens – em situação parecida com a da Tunísia e do Egito – permanecem na espera pela saída de Saleh.
Além da Al Qaeda, separatistas no sul do país e xiitas ao norte exigem a queda do presidente.
Saleh promete resistir e diz que defenderá seu regime até a última gota de sangue. Promessa semelhante às feitas por Muammar Gaddafi, na Líbia, que ainda permanece no poder e Hosni Mubarak, o líder deposto no Egito. Qual será o defecho na crise do Iêmen, só o tempo dirá.

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