Britânico que morou no Iêmen teme guerra civil
Para pesquisador, aspirações democráticas são frágeis em país sem unidade nacional
Paula Resende
Por anos, o presidente Ali Abdullah Saleh joga com o temor de que o país mergulharia no caos sem ele para manter o controle do Iêmen. Mas seu apoio interno está lentamente desaparecendo. Apesar das aspirações democráticas do movimento que pede a sua queda, o pesquisador da Universidade de Londres, Thanos Petouris, lembra que os interesses nos bastidores vão além do que pregam os jovens acampados por seis semanas em frente à Universidade de Sanaa.
Mudanças em uma nação dividida em tribos, com instituições políticas fracas e corruptas, podem facilmente caminhar para uma guerra civil, defende o pesquisador.
O britânico pode conferir de perto o funcionamento político do país durante o ano que passou entrevistando políticos locais como estudante PhD da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres.
Em entrevista ao R7, Petouris classificou a experiência como “muito positiva” e reflete sobre os rumos do país diante das atuais manifestações que ameaçam derrubar o regime de mais de 32 anos.
R7- Como foi a experiência de viver no Iêmen?
Thanos Petouris - Eu nunca me senti ameaçado ou em perigo no Iêmen. Consegui visitar quase todo o país, incluindo a ilha de Soqotra, e a região Hadhramaut no leste. Acho que os iemenitas são um povo muito hospitaleiro e simpático, e os jovens iemenitas, em particular, são ansiosos para aprender e promover o futuro do seu país.
Thanos Petouris - Eu nunca me senti ameaçado ou em perigo no Iêmen. Consegui visitar quase todo o país, incluindo a ilha de Soqotra, e a região Hadhramaut no leste. Acho que os iemenitas são um povo muito hospitaleiro e simpático, e os jovens iemenitas, em particular, são ansiosos para aprender e promover o futuro do seu país.
R7- Qual é a natureza dos atuais protestos no país? Existe uma demanda real por democracia?
Petouris - O Iêmen é um dos países mais pobres do mundo, com altas taxas de desemprego, corrupção, índice de pobreza, com problemas ambientais (falta de água e petróleo) e taxas de desnutrição piores que do Afeganistão. Essa falta de futuro para o país e seu povo é o que, na minha opinião, levou os jovens mais educados do Iémen a sair nas ruas.
No entanto, há motivos mais profundos por trás dos grupos que apoiam a iniciativa da juventude. O movimento do sul, na terra do ex-Iêmen do Sul, vê a destituição do presidente Saleh como primeiro passo para sua independência. Já os rebeldes huthi no norte do país querem esculpir sua própria região autônoma, e gostariam de se posicionar à frente da luta pelo poder sucessão.
Eu diria que os protestos dos jovens da Universidade de Sanaa e em outras partes agiram como um catalisador para trazer a tona as já existentes lutas de poder dentro do regime.
R7- Quais são as diferenças entre os movimentos no Iêmen das revoluções vistas no Egito e Tunísia?
Petouris - No Egito e na Tunísia, parece-me que a juventude nas ruas teve um efeito mais direto sobre a mudança política. Eles se moveram rapidamente para formar uma aliança com as forças armadas do país. No caso do Iêmen, a juventude não parece deter o poder político. O papel das tribos como unidade de organização política continua a ser muito importante e relevante, e o Exército já dividiu em duas facções. Eu acho que o país dá passos mais para perto de uma guerra civil ao invés de uma solução política.
Petouris - O Iêmen é um dos países mais pobres do mundo, com altas taxas de desemprego, corrupção, índice de pobreza, com problemas ambientais (falta de água e petróleo) e taxas de desnutrição piores que do Afeganistão. Essa falta de futuro para o país e seu povo é o que, na minha opinião, levou os jovens mais educados do Iémen a sair nas ruas.
No entanto, há motivos mais profundos por trás dos grupos que apoiam a iniciativa da juventude. O movimento do sul, na terra do ex-Iêmen do Sul, vê a destituição do presidente Saleh como primeiro passo para sua independência. Já os rebeldes huthi no norte do país querem esculpir sua própria região autônoma, e gostariam de se posicionar à frente da luta pelo poder sucessão.
Eu diria que os protestos dos jovens da Universidade de Sanaa e em outras partes agiram como um catalisador para trazer a tona as já existentes lutas de poder dentro do regime.
R7- Quais são as diferenças entre os movimentos no Iêmen das revoluções vistas no Egito e Tunísia?
Petouris - No Egito e na Tunísia, parece-me que a juventude nas ruas teve um efeito mais direto sobre a mudança política. Eles se moveram rapidamente para formar uma aliança com as forças armadas do país. No caso do Iêmen, a juventude não parece deter o poder político. O papel das tribos como unidade de organização política continua a ser muito importante e relevante, e o Exército já dividiu em duas facções. Eu acho que o país dá passos mais para perto de uma guerra civil ao invés de uma solução política.
R7- A Arábia Saudita e outros na península Arábica falam que o Irã estaria tentando tirar proveito da situação no Iêmen. No entanto, não há muita evidência sobre essa influência. Qual é a sua opinião?
Petouris - O Irã tem tratado as recentes manifestações árabes como uma continuação da revolução iraniana de 1979, e manifestou o seu apoio para todas elas. No entanto, é verdade, como você diz, que não há provas substanciais de que o Irã tem dado armas e dinheiro em prol de uma insurreição xiita nesses países. Eu acho, por agora, tudo isso é retórica. Sem esquecer que, apesar de apoiar a revolução árabe, o Irã tem o seu movimento de oposição dentro do próprio país, e vai tentar manter um equilíbrio entre suprimir a revolução em casa, enquanto o apoiam as de fora.
R7- Os americanos não têm se pronunciado muito sobre a revolução no Iêmen, um país aliado. Como eles poderiam prevenir uma desintegração do governo central?
Petouris - O Irã tem tratado as recentes manifestações árabes como uma continuação da revolução iraniana de 1979, e manifestou o seu apoio para todas elas. No entanto, é verdade, como você diz, que não há provas substanciais de que o Irã tem dado armas e dinheiro em prol de uma insurreição xiita nesses países. Eu acho, por agora, tudo isso é retórica. Sem esquecer que, apesar de apoiar a revolução árabe, o Irã tem o seu movimento de oposição dentro do próprio país, e vai tentar manter um equilíbrio entre suprimir a revolução em casa, enquanto o apoiam as de fora.
R7- Os americanos não têm se pronunciado muito sobre a revolução no Iêmen, um país aliado. Como eles poderiam prevenir uma desintegração do governo central?
Petouris - A forma como os políticos dos EUA vêem o Iêmen é através das lentes de suas estratégias de combate ao terrorismo. O que importa é que tenham atingido um bom nível de cooperação e entendimento com o governo para oferecer apoio financeiro, equipamentos e enviar equipes para a formação de unidades militares iemenitas contra o terrorismo.
O que os torna nervosos é se um próximo presidente seguirá as mesmas políticas. Ao mesmo tempo, os EUA tem medo que a maior agitação no Iêmen dará a grupos radicais a oportunidade de recrutar mais membros. É por isso que os EUA não tem sido capaz de expressar algo além do que "preocupação" sobre o que vem acontecendo no Iêmen.
R7- No caso do presidente Ali Abdullah Saleh renunciar, ou ser derrubado, quem (ou qual grupo) pode tomar o seu lugar?
Petouris - Eu acho que na situação atual o candidato mais provável para suceder Saleh é Hameed al Ahmar, o filho do falecido xeque Abdullah al Ahmar, que foi presidente do Parlamento, e o líder da confederação tribal Hashid. O sucessor teria que fazer concessões importantes, tanto para os rebeldes huthi no norte, quanto ao movimento do sul e, essencialmente, promover uma política do federalismo, se o país continuar unido.
O interessante é que, depois das primeiras aparições em público, Hameed al Ahmar permanece discreto e, eventualmente, deixará os outros políticos esgotar-se antes de emergir como uma solução para o Iêmen.
Petouris - Eu acho que na situação atual o candidato mais provável para suceder Saleh é Hameed al Ahmar, o filho do falecido xeque Abdullah al Ahmar, que foi presidente do Parlamento, e o líder da confederação tribal Hashid. O sucessor teria que fazer concessões importantes, tanto para os rebeldes huthi no norte, quanto ao movimento do sul e, essencialmente, promover uma política do federalismo, se o país continuar unido.
O interessante é que, depois das primeiras aparições em público, Hameed al Ahmar permanece discreto e, eventualmente, deixará os outros políticos esgotar-se antes de emergir como uma solução para o Iêmen.
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