31 de mar. de 2011





O mundo vivia a “quebra” da Bolsa de Nova York e no Brasil a tragédia tinha cheiro de café, com o governo queimando estoques para segurar o preço e a falência de pequenos comerciantes. Um deles era Antonio Gomes da Silva, casado com dona Dolores e pai de 14 filhos, que, enclausurado num pequeno armazém, lutava pela vida.

Um de seus filhos, comovido e angustiado, via o esforço do pai e sonhava redimi-lo da sua tragédia.

E foi assim que, aos 14 anos de idade, partiu com o coração estraçalhado de saudades, como um marujo no convés de um galeão a singrar o Atlântico, com o vento no rosto e a alma iluminada de bondade e de esperança. Disse-me certa vez: “Recebia 300 réis.

A pensão levava quase tudo, mas nunca deixei de mandar para mamãe um sabonete, uma meia ou uma latinha de talco.”

Seu amor pelos pais e irmãos foi a energia primária da sua alma. Sua trajetória é um emaranhado de belezas que resplandece como a luz que vem de longe, varando as distâncias e as dimensões, como a parábola do grão de mostarda que, sendo a menor das sementes, disse Jesus, ao crescer se torna a maior das hortaliças.

Na estrada da vida caminhou à luz dos olhos azuis da doce Mariza, companheira fiel e inseparável, na tormenta e no esplendor. É, antes e acima de tudo, um mineiro. Mineiro na simplicidade e correção das atitudes. Mineiro na lealdade aos amigos e correligionários, na honradez de sua consciência, na incapacidade de odiar, na prudência sem covardia, na altivez sem arrogância, na humildade sem subserviência. Na luta, cumpriu as missões arriscadas para, na hora da vitória, recolher-se quase como um anônimo ao fundo do palco, deixando a ribalta aos mais afoitos.

Na reeleição de Lula, sua saúde estava abalada. Os prognósticos eram sombrios, mas nele se cumpriu o mandamento: “Honra teu pai e tua mãe para que teus dias se prolonguem na Terra.” Foi um gladiador naquele momento histórico.

Por diversas vezes, a morte, impaciente, veio buscá-lo. Ele a recebia com serenidade e dizia: “Perfeitamente.” Mas, aos poucos, mineiramente, a convencia de que ainda não era chegada a sua hora. Esses dias, vi uma foto sua na “Folha de S. Paulo”, ao lado de Dilma. Nunca foi um dogmático.

Mesmo de posse de convicções cristalizadas, discutia, argumentava, persuadia. Não há declarações suas de euforia com relação ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Temia que o gasto público fugisse do controle, aumentasse a carga tributária, já alta, e a taxa de juros, com risco de inflação. Naquela foto há um pouco dessa preocupação ao olhar a mãe do PAC.

Recentemente, disse que pedia a Deus humildade. Para quem venceu as ondas dos mares com o peito, superou com o lema dos seus ideais o dilúvio das crises políticas que varreram o mundo do seu tempo, do alto da sua trajetória vitoriosa, pede a Deus humildade e nos dá uma lição imortal. Sendo tão rico, de tudo se despoja, para buscar na fé em Deus a salvação da sua alma em Cristo.

Hoje, no Brasil, sobretudo em Minas, há em cada lar uma prece; em cada olhar, um voto de paz; e em cada coração há gratidão ao ilustre brasileiro José Alencar Gomes da Silva, que honra sua gente, dignifica seu País e conclui sua vida pública nos píncaros da dignidade humana, para ocupar seu lugar no panteão da pátria agradecida e por ele engrandecida.

Senador Marcelo Crivella (PRB/RJ)

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