31 de mar. de 2011

O Brasil é incolor: para o DEM não existem negros e brancos, pobres e ricos

 
Nota do DEM afirma que sistema de cotas por raça fere princípios de igualdade

Em resposta a uma acusação da deputada petista, Janete Pietá de São Paulo, de que o DEM luta pelo fim do regime de cotas para negros nas universidades públicas, o partido soltou a seguite nota:

"A deputada Janete Pietá se equivocou porque uma coisa são as posições partidárias, e outra as pessoais.
Um dos argumentos do DEM é que a divisão da humanidade em raça não existe. Foi um erro histórico. Toda política que aceite essa divisão, para o bem ou para o mal, está corroborando o racismo. Com relação às cotas, elas são insconstitucionais por ferirem o princípio da igualdade”.

Vindo de quem vem, soa por demais irônico que um partido que se sustentou ao longo dos tempos, desde suas raízes na Arena até o PFL, na subjugação das classes menos favorecidas pelas mais poderosas, em que sempre esteve ao lado daqueles que fizeram valer seus interesses sobre minorias e grupo sociais mais desamparados, soltar tal nota atenta contra a inteligência das pessoas.

A falta total de argumentos do DEM em sua luta contra o sistema de cotas nas universidades públicas não encontra espaço no histórico contexto político-social do Brasil, em que negros e mais pobres nunca tiveram até então, oportunidades justas de chegar a universidade, sempre enfrentando condições mais adversas que os mais ricos e brancos, para trilhar o mesmo caminho de um assento na universidade pública.  Esquecem-se disso, DEM e suas lideranças, para a defesa da "igualdade entre raças e classes" na disputa por uma vaga no ensino superior, mas escondem o fato de que tal igualdade é inexistente.

Para dizer que somos todos iguais, o DEM invade o campo das ciências sociais e decreta o fim dos estudos de raça, classes sociais, logo poderão também decretar o fim das diferenças religiosas e culturais.  Assim o fazem em defesa da manutenção de um Status Quo que beneficia os seus pares e ignora todas as diferenças que lhes davam vantagens plenas no acesso a um ensino público de qualidade.

Esta nota do partido talvez explique a total falta de respeito com a diferença e o preconceito enraizado e praticado por membros do DEM, como no caso do deputado Júlio Campos (DEM-MT) ao escurregar neste tema, ao lançar o termo "moreno escuro":
"Todo mundo sabe que essa história de foro privilegiado não dá em nada. O nosso amigo Ronaldo Cunha Lima precisou ter a coragem de renunciar ao cargo para não sair daqui algemado. E depois, meus amigos, você cai nas mãos daquele moreno escuro lá no Supremo, ai já viu" (sic)".

O "moreno escuro", sabe-se lá o que signifique isso, trata-se do ministro do STF, Joaquim Barbosa, o primeiro negro a ocupar tal posto na república.

Para a cúpula do partido Democratas, o Brasil é incolor, não existem raças, nem diferenças sociais, religiosas ou culturais, apenas para zelar pelas benesses de quem sempre teve o Estado para servir-lhe o que de melhor produzia, tentam convencer a maioria de que, no final das contas, lá na hora de candidatar-se a uma oportunidade de ensino cobiçada por todos, aí somos iguais em oportunidades, todo o percurso percorrido, desigualmente, entre ricos e pobres, brancos ou negros,  isso não importa, para o DEM isso é "um princípio de igualdade".  Quanto cinismo oportunista.
O país avança socialmente e vem combatendo as desigualdades com políticas públicas afirmativas, mas este quadro de revés para grupos preteridos pelo Estado, historicamente, levará ainda algum tempo para ser superado, as ações reparativas serão necessárias até que este quadro seja totalmente modificado.
 
 

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