15 de abr. de 2011

Venezuela
Desnutrição mata seis crianças indígenas em 10 dias

Um grave estado de desnutrição causou a morte de seis crianças da comunidade indígena de warao, em Cambalache, no Estado venezuelano de Bolívar. As mortes ocorreram nos últimos dez dias e outras 16 crianças foram diagnosticadas com o mesmo quadro.

A comunidade está revoltada com o descaso. As duas primeiras crianças falecidas foram enterradas debaixo de uma árvore, já que a prefeitura de Caroní não respondeu aos pedidos de ajuda para comprar os caixões.

O diretor do Distrito Sanitário número 2 de Bolívar, Manuel Maurera, afirma que uma gripe causou as mortes. Entretanto, a comunidade denuncia que as crianças morreram de desnutrição, pois as 86 famílias warao, esquecidas pelo Poder Público, vivem da coleta de lixo no aterro sanitário de Cambalache, sem acesso à água potável e alimentação adequada.

De acordo com a médica Lucia Delgado, do ambulatório tipo I, em Cambalache, a principal causa do problema seria, de fato, o contato com o lixo. "Toda a população de Cambalache está em risco pelo fato de viver no lixo. A base alimentar quase inexistente também influiu na morte das crianças, além de que não se tem medidas de higiene e vivem em isolamento”, disse.

"Eu vivo há 11 anos aqui e junto às crianças trabalhamos recolhendo lixo, porque não há mais nada que fazer. Vivemos no meio da cidade e não nos ajudam, mais ainda nos enganam, quando querem votos”, desabafou o cacique, Antonio Valenzuela.

Os indígenas não têm acesso à saúde e, no momento, 20 adultos estão acometidos de malária. O sacerdote Guillermo Van Zeland relata que não há medicina preventiva para a comunidade e nem transporte até o posto. "Faz tempo que deixaram de fazer operativos de saúde semanais, quando os indígenas vão ao ambulatório, lhes enchem as mãos de receitas médicas e muitos não sabem ler nem escrever”, afirmou.

Mesmo que soubessem ler as receitas, os warao não dispõem de renda suficiente para comprar os remédios. "Necessitamos trabalho, quando as crianças se adoentam, os médicos mandam comprar remédios que não podemos, porque não há dinheiro, por isso os filhos morrem”, ressaltou Valenzuela.

Embora as autoridades médicas afirmem que estiveram na comunidade durante a semana passada aplicando vacinas, tanto o sacerdote Guillermo quanto os indígenas negam veementemente que tenham recebido apoio.

O líder dos waraos em Cambalache, Pedro La Rosa, disse que a informação era "mentira” e a comunidade não tem assistência médica há bastante tempo. Para ele, os warao são tratados como "animais”.

Além de tudo, a comunidade denuncia que, depois da morte das crianças, vem sofrendo ameaças de funcionários do estado para que não denunciem os fatos aos meios de comunicação.

Com informações de El Universal, Rede Digital e Amnistia
Camila Queiroz
Jornalista da ADITAL
Adital

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