7 de mai. de 2011

ARTIGO MESTRE

ENTRE O IMPÉRIO E A DEMOCRACIA

 
Fátima Almeida




 Chalmers Johnson, ex-analista da CIA - agencia de espionagem norte-americana -  professor de História, aposentado, das Universidades de Berkeley e San Diego, concedeu entrevista a Jorge Pontual do programa Milênio da Globo News, em sua casa no Sul da Califórnia, terça passada, quando disse que Barack Obama está perdido e que os Estados Unidos precisa decidir se é uma democracia ou um império, pois não é possível uma nação ser uma e outro ao mesmo tempo.
Pouco antes do “11 de setembro”  Johnson publicou o primeiro livro de sua trilogia “Blowback”, publicado no Brasil com nome em inglês, no qual previa que algum tipo de represália estaria sendo desenvolvida em resposta à presença militar cada vez mais freqüente dos Estados Unidos no mundo. São oitocentas bases militares em diversos países, revelou. O termo blowback é usado pela CIA para descrever situações em que ações americanas provocam represálias. Acima de tudo, disse Chamers, significa uma reação, uma resposta. Um problema é que o povo americano não costuma esperar por isso: “quase nunca prevêem isso corretamente porque eles tendem a achar que estão fazendo o bem no mundo e que os outros concordam com eles, por isso, ficam surpresos com algumas reações que recebem”.
Quando Chalmers escreveu sua trilogia, na virada do século previa que os principais problemas da política externa nos EUA, nas décadas seguintes, seriam questões remanescentes da última metade do século 20: “elas estavam se acumulando, não teríamos boas notícias”. Após a publicação, houve o atentado de 11 de setembro e as pessoas diziam; “Meu Deus, ele previu os ataques”. É claro que eu não previ, disse ele, exceto em um sentido,  eu disse que haveria um contragolpe, digamos assim, vindo do terceiro mundo, dos países que nós intimidamos. Os americanos ficaram chocados pela idéia de não serem amados por todos, de que suas forças armadas são realmente forças armadas e não missionários armados ou algo do tipo. Vamos falar abertamente, disse o historiador norte-americano, nessa entrevista: é claro que os EUA é um império!
O imperialismo norte-americano vem de longe, desde quando adquiriram a Lousiana, colônias em Porto Rico, Havaí, Alasca, a guerra das bananas, a guerra mexicano-americana com a anexação do Texas, do Novo México, do Arizona, da Califórnia, a ocupação militar das filipinas, etc. Os EUA, em 1896, foi comparado ao Império romano, quando o jornalista Henry Watterson declarou: “somos uma república imperial, destinada a exercer influencia controladora sobre as ações da humanidade”.
Após a Segunda Grande guerra, os EUA emergiram na condição de primeira potência mundial, sem que uma só bomba tenha caído em seu território ao passo que milhares destruíram cidades da Inglaterra, França, Alemanha, países aos quais ele concedeu empréstimos para a reconstrução, com sua economia saudável graças, em parte,  aos soldados da borracha, brasileiros que saíram do nordeste para a Amazônia, vindo produzir matéria-prima para sua indústria. O Os EUA, promoveram as guerras do Vietnam, Coréia, Afeganistão, fez embargo à Cuba, Guerra do Iraque, ocupado com o controle dos seus mercados de consumo e capitais e em especial com o controle da riqueza petrolífera do Oriente Médio que o regime dos Talibãs vem resistindo a entregar de forma incondicional.
Segundo Jorge Pontual os gastos militares do governo norte-americano chegaram a quase um trilhão de dólares em 2010, mais do que a soma dos orçamentos militares de todos os outros países, nove vezes mais do que a China, potência rival, gasta por ano, com suas forças armadas. Israel, frente avançada dos Estados Unidos no Oriente Médio está, agora mesmo, vendendo milhares e milhares de tanques de guerra, expostos num enorme campo, ao preço de 25 centavos o quilo.
O mundo está em guerra e a ultima aquisição brasileira de tanques foram 34 veículos da marca Leopard de fabricação alemã, que entrou em operação em 1965, ao preço de 900 mil reais cada um.  O Brasil ainda opera com caças F-5, que operaram na guerra do Vietnam, reformados, agora com 30 anos de operação.  A última aquisição da marinha é o Porta-Aviões São Paulo, construído na França entre 1957 a 1960 e que serviu à Marinha da França, por 12 milhões de dólares. Os fuzis do exército brasileiro, da marca FAL, são de calibre defasado. Já a Venezuela de Hugo Chavez,  negocia aquisição de 24 caças de combate de uma classe de caças de ataque e superioridade aérea pesada, de longo alcance, quarta geração e que entraram em operação na força aérea russa em 2008.
Chalmers revelou que por causa de Hugo Chavez procurou ler a obra As Veias Abertas da América Latina de Eduardo Galeano, publicada em 1971: “meu Deus, é realmente uma obra fantástica e importante! Eu a acho impressionante e poucos americanos a conhecem”. Que coisa, todos nós jovens, aqui no Acre, nos tempos da “militância”, final dos anos setenta, tínhamos que ler dois livros básicos: As veias abertas..e, História da Riqueza do Homem de Léo Huberman. Como os americanos são indiferentes à  produção intelectual latino-americana, desprezível para eles, em especial quando apresentam críticas ao seu sistema! Era comum nos negarmos a beber coca-cola, a “água suja do imperialismo norte-americano”. Bons tempos.
Recuando mais no tempo, lembro-me que só assistíamos filmes americanos, no Cine Teatro Recreio, uns até com um certo glamour mas a maioria eram faroestes que apresentavam os indígenas que ainda resistiam a penetração dos seus territórios como se fossem feras. Antes dos filmes projetavam seriados, como A adaga do rei Salomão, quando o herói Rex Bennett, feito pelo belo ator Rod Cameron, sempre ganhava dos árabes barrigudos e estúpidos. As gerações mais recentes assistiram Indiana Jones, cujo chapéu é o mesmo usado por Rex. A serie Indiana Jones foi inspirada  no seriado Adaga de Salomão da Repúblic Pictures, conforme foi revelado por  seu criador, Steven Spielberg, rico diretor judeu-americano.
Na visão de Chalmers, o custo da manutenção da hegemonia dos Estados Unidos no mundo é insustentável. Ele disse que viu na eleição de Barack Obama um sinal de que o país poderia mudar de rumo e abrir mão da política imperialista das últimas décadas. Não é o que está parecendo. Após o assassinato de Bin Laden reações se fazem notar como a reconciliação dos dois movimentos representantes do povo palestino, Al Fatah e Hamas.Um líder árabe falou na TV que Bin Laden morreu como um guerreiro. Certo é que o mundo árabe está fervendo. Espero que não sobre nada para nós, brasileiros, sentados sobre um barril de pólvora,  assistindo Flamengo e Vasco.


Fátima Almeida é Acreana, Historiadora, Professora de Artes na UFA-e articulista do Jornal A Gazeta

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