“For colored girls” – Mulheres pretas e as violências cotidianas
Por Ulisses Soares Passos*
For Colored Girls Who Have Considered Suicide When the Rainbow is Enuf (Para Mulheres Pretas que Têm Considerado o Suicidio Quando o Arco-íris é suficiente) um filme baseado em peça de teatro homônima de 1975, de autoria da americana Ntozake Shange, na qual são mostrados diversos poemas de mulheres sem nome, unidas pelos problemas cotidianos enfrentados das mulheres pretas, que falam sobre amor, aborto, estupro, violência, religiosidade e abandono.
O filme retrata a vida de nove mulheres afro-americanas que têm suas vidas unidas em determinado momento, todas enfrentando problemas muito comuns às mulheres pretas na sociedade contemporânea. Embora, o texto original seja de 1975 seu conteúdo continua inerte, assim como a degradação vivenciada pelas mulheres pretas.
Longe de se pretender trazer uma análise esmiuçada do conteúdo do longa, podemos elencar diversos fatores que o legitimam, fazendo da sua real abordagem, uma das melhores, senão a melhor, cinematografia acerca das mulheres pretas, seus desafios e opressões dentro de uma sociedade machista, racista e putrefata pelas conseqüências de séculos de escravização.
Seria nefasto eleger partes a comentar, pois do início ao fim podemos perceber o quão presente é sua contextualização dentro da nossa vivência. Os diversos recortes apresentados pelo filme descrevem com perfeição as mazelas enfrentadas e compartilhadas em nossa comunidade: ausência de planejamento familiar, aborto clandestino, violência doméstica, estupros, proliferação do HIV etc.
Nesse sentido, destacamos dois trechos do filme que retratam, respectivamente, com singularidade única, o aborto clandestino e o extremo da violência familiar pelos homens pretos cumulada com o consumo de álcool, ambos bastante comuns dentro de nossa comunidade.
Outrossim, é necessário destacar a aplicabilidade irrestrita desse filme no processo de conscientização das mulheres pretas, principalmente às jovens, suscetíveis a esses embates, independente da classe social que ocupem, pois o que as unem é a sua condição de mulher preta, como bem restou demonstrado no filme.
Além disso, o longa também destaca o papel fundamental dessas mulheres na construção da sociedade, retratando trabalhos comunitários de resgate e educação de outras mulheres, representantes do sustento familiar, gerência de grandes empresas, estudantes, garçonetes, enfim, mulheres pretas independentes, autônomas, repletas de sonhos, com papéis estruturantes dentro da sociedade.
Por fim, um filme a ser difundido dentro da nossa comunidade, como o retrato de nós mesmos, percebidos de forma ímpar por Ntozake Shange, cujo conhecimento se torna obrigatório para nossa formação enquanto homens e mulheres pretas.
Publicação dedicada a TODAS as mulheres pretas violentadas cotidianamente pelo Estado, pelo machismo, pelo racismo e por quem mais deveria amá-las: os homens pretos.
Download do filme em português: http://www.fileserve.com/file/GGMD87H.
* Bacharel em Direito (Estácio de Sá), Acadêmico de Línguas Estrangeiras (Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Presidente do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, seccional Bahia – CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba
Presidente do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, seccional Bahia – CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba
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