26 de abr. de 2011

Plantão

Truculento, Requião toma gravador de repórter, deleta uma declaração sua — e tudo fica por isso mesmo

 

O momento foi perfeito para a pergunta do repórter Victor Boyadjian, da Rádio Bandeirantes: mal o senador Roberto Requião (PMDB-PR) acabou de defender perante jornalistas uma profunda economia nos gastos públicos, especialmente na Previdência Social, quando Boyadjian perguntou-lhe – muito apropriadamente — se, em nome do que estava defendendo, o senador aceitaria abrir mão da aposentadoria que recebe dos cofres públicos como ex-governador – belos, reluzentes 24,1 mil reais por mês.
“Numa boa, vou deletá-lo”
Aí baixou a entidade Requião no senador, que arrancou o gravador das mãos, levou-o para seu gabinete e postou no Twitter, como se fosse a coisa mais normal do mundo, a seguinte mensagem: “Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa , vou deletá-lo”.
Não tanto numa boa, o repórter dirigiu-se até a Polícia Legislativa do Senado para registrar a ocorrência, acompanhado pelo presidente do Comitê de Imprensa do Senado, Fábio Marçal. Lá ficou sabendo que a Polícia Legislativa não poderia fazer nada: casos envolvendo senadores só podem ser tratados pela Corregedoria do Senado.
E aí aparece esse lado safardana do Brasil, amigos: uma vez que o cargo de corregedor do Senado está vago, porque seu futurto ocupante ainda não foi escolhido por Suas Excelências, o repórter da Bandeirantes não conseguiu registrar ocorrência nenhuma contra a intolerável truculência do ex-governador, nem reaver de pronto seu instrumento de trabalho.
Uma hora depois, Requião mandou devolver o que tomara, sem o chip de memória. E tudo ficou por isso mesmo.

RICARDO SETTI

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