Brasileiros ganham tratamento vip em campo de refugiados na Costa do Marfim
Guerra civil sangrenta terminou na semana passada com deposição do ex-presidente
Paula Resende, do R7
Philippe Desmazes/15.04.2011/AFP
"Para comemorar o fim das batalhas em Abidjã, meninos nadam na lagoaEbrie"; brasileiros em campo de refugiados podem voltar para a casa apósperíodo de disputas políticas entre Laurent Gbagbo e Alassane Ouattara
O paulista Rosendeun Simão saiu de casa no dia 7 deste mês com os cinco filhos e só retornou uma semana depois, na última quinta-feira (14). Neste tempo, ficou confortavelmente hospedado com direito a comida da culinária francesa, piscina, filmes e, o mais importante, estava em segurança. Fora dos muros que cercavam o aparente hotel – na verdade, um campo de refugiados – rivais políticos transformaram a maior cidade da Costa do Marfim em um campo de batalha de cidadãos lutando contra si próprios.
Só no começo da semana passada, o cenário começou a mudar em Abidjã, com a prisão do então presidente, Laurent Gbagbo, na última segunda-feira (11). Ele se recusava a deixar o poder desde a derrota nas eleições de novembro de 2010 para Alassane Ouattara.
Os dois rivais protagonizaram nos últimos meses uma sangrenta disputa pelo poder na Costa do Marfim, numa guerra civil que deixou aproximadamente 1.500 mortos. Mas a perspectiva de paz agora se reacendeu nas mãos de Ouattara.
Barracas eram confortáveis
Simão é engenheiro aposentado vive no país africano desde a década de 1960. Ele falou ao R7 por telefone na última quinta-feira (14), assim que retornou do quartel do Exército francês próximo ao aeroporto do de Abidjã. No auge do conflito, o campo chegou a abrigar cerca de 2.000 refugiados de vários países.
Simão é engenheiro aposentado vive no país africano desde a década de 1960. Ele falou ao R7 por telefone na última quinta-feira (14), assim que retornou do quartel do Exército francês próximo ao aeroporto do de Abidjã. No auge do conflito, o campo chegou a abrigar cerca de 2.000 refugiados de vários países.
O brasileiro descreveu um cenário quase surreal, considerando que a cidade foi tomada por tanques com armamentos pesados e corpos espalhados pelas ruas.
- Fomos muito bem tratados lá no acampamento. Ficamos em barracas, que eram muito confortáveis, mas chegava a ter apartamentos com ar condicionado e televisão. As crianças nem queriam voltar.
Segundo a embaixadora brasileira no país, Maria Auxiliadora Figueiredo, após uma negociação o governo francês autorizou a entrada de 12 e 15 brasileiros no campo de refugiados – a maioria crianças. Antes dos conflitos, havia no país cerca de 200 brasileiros, mas, como muitos fugiram, sobraram aproximadamente 120.
Segurança teve direito a escolta de tanques franceses
Embora não viva em um dos bairros mais afetados, Simão conta que pediu ajuda assim que percebeu o agravamento da situação em Abidjã. Não queria as crianças visse “que gente estava morrendo nas ruas” e não hesitou em pedir ajuda à Embaixada do Brasil.
- No outro dia já apareceram os franceses para nos escoltar. Fui dirigindo o meu carro, com um tanque na frente e outro atrás para garantir nossa segurança. Nunca tinha visto isso.
O R7 não conseguiu contatar outra família brasileira que estava no acampamento. Nem Simão nem a embaixadora brasileira souberam informar com exatidão quantos ainda permaneciam lá. O governo francês não divulga informações por questão de segurança.
Após queda, vem período de “caça as bruxas”
Mesmo com a queda Gbagbo, a violência ainda é latente no país, afirma Maria Auxiliadora Figueiredo. A embaixadora relata que, depois da prisão, houve um período de terror, saques e uma empreitada “caça as bruxas” aos seguidores do ex-presidente pelos aliados de Ouattara.
- A normalidade ainda não foi restaurada. Alguns bairros estão funcionando bem há tempos, mas outros como o que abriga a nossa embaixada, em Cocody [onde fica o palácio presidencial], ainda têm muitos problemas.
Maria Auxiliadora, no entanto, passou dias de tensão, já que vive perto da casa onde Gbagbo se entrincheirou. Graças aos estoques que mantém, renovados a cada três meses, ela pôde passar esses dias sem sair de casa, racionando a comida.
- Agora são os brasileiros que me ligam para saber se estou bem, não o contrário. Orgulho-me de ter tido apoio do governo brasileiro. Em nenhum momento nos sentimos abandonados.
A embaixada foi criada e 1969, quando o Brasil e a Costa do Marfim mantinham relações mais estreitas. Segundo Maria Auxiliadora, o Banco do Brasil, o Banco Real e a Varig tinham postos lá, na época do regime militar brasileiro. Mas, com mudanças na economia, as relações escassearam. Hoje, o Brasil compra da Costa do Marfim, principalmente, cacau e castanha de caju.
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