Dilma põe em dúvida a promessa de erradicar miséria até fim do mandato
A presidente Dilma Rousseff (PT) admitiu ontem, pela primeira vez, que os quatro anos de seu mandato podem não ser suficientes para erradicar a miséria no País. O combate à miséria foi uma das principais promessas de Dilma durante a campanha eleitoral e consta em documento intitulado Diretrizes do governo da presidente Dilma Rousseff divulgado no site da Presidência: "Erradicar a pobreza absoluta e prosseguir reduzindo as desigualdades". Essa mesma meta consta na cartilha feita por Dilma durante a campanha eleitoral, com 13 compromissos.
Roberto Stuckert Filho/PR
Atenção materna. Dilma conversa com a gestante Quele Glaeice Costa após lançamento da Rede Cegonha, na capital mineira
"Temos um grande compromisso, que é acabar com a miséria no nosso Brasil. Posso não conseguir acabar nos meus quatro anos, mas eu vou insistir tanto nisso, que esse objetivo de acabar com a miséria vai ficar selado nas nossas consciências", afirmou a presidente, em Belo Horizonte, ao participar do lançamento do programa Rede Cegonha, de atendimento gestantes,
Dilma Rousseff também minimizou ontem críticas que ela própria fizera ao sistema público de saúde, na semana passada.
Em seu discurso de posse, em janeiro, Dilma afirmou que a erradicação da miséria seria a prioridade da sua gestão. "Lutarei firme e decididamente para acabar com a miséria no nosso País", afirmou em fevereiro.
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2009, o número de pobres (com renda per capita mensal de até R$ 140) no País caiu quase pela metade, entre 2003 e 2009, passando de 30,4 milhões para 17 milhões. Economistas do próprio governo já diziam ser pouco provável diminuir o número para zero em quatro anos.
"Salto". Apesar de admitir que talvez não consiga extinguir a miséria no seu governo, Dilma disse achar que o Brasil dará um "salto maior ainda" que o visto nos dois mandatos do ex-presidente Lula (2003-2010). Os avanços, segundo a presidente, serão consequência da "herança" positiva recebida do antecessor.
Depois de ter feito, na semana passada, críticas indiretas ao Sistema Único de Saúde (SUS), o qual já havia dito ser "incompleto" e ter "falhas", a presidente afirmou ontem que não se pode ficar "parado, de braços cruzados, olhando para o SUS e falando que ele é bom". "Agora temos de fazer um esforço para estar à altura do desafio que aqueles que lançaram o SUS, nos anos 80, tiveram o compromisso com o Brasil. Temos de transformar cada vez mais, a cada dia, o nosso SUS em um grande e em um ótimo sistema de saúde."
Dilma disse ainda ser importante criticar: "Nós estamos abertos a escutar críticas. Sabemos que só quem escuta pode melhorar. Aqueles que acham que atingiram o mundo perfeito nunca melhoram, nunca dão um passo". O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acompanhou a presidente durante a viagem.
Cegonha e creche. Para a presidente, o SUS deve operar com qualidade para que o programa Rede Cegonha funcione - segundo o Ministério da Saúde serão investidos R$ 9,4 bilhões até 2014 em atendimentos que vão do pré-natal até os dois anos de vida do bebê. O programa, também uma promessa de campanha, foi anunciado como contraponto ao Mãe Paulistana, implantado em São Paulo na gestão de José Serra (PSDB), derrotado por Dilma em 2010.
Durante o seu discurso, de 25 minutos, a presidente quase cometeu uma gafe. Chegou a dizer que "creche não é só um depósito de criança". Ao perceber a falha, consertou: "Não é só um depósito de criança porque nunca foi." "Uma creche que é um depósito de crianças é uma distorção que nós não podemos permitir."
Vale-táxi. O governo prometeu ontem que vai pagar táxi para gestantes atendidas pela rede pública. O vale-táxi é um dos pontos previstos no programa Rede Cegonha, lançado ontem. Segundo o ministro Padilha, o Transporte Seguro terá investimentos de R$ 262,6 milhões, o que representa 2,79% da verba prevista para o Rede Cegonha.
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