1 de mai. de 2011

"PRIMEIRO DE MAIO 2011"

Do Encontro Nacional em Defesa da Terra e da Vida ao VIII Acampamento Terra Livre
(Brasília, 2 a 5 de maio 2011)
 
Fotos: Eden Magalhães
Enquanto a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), de São Paulo, realiza sua “comemoração” do Dia do Trabalho com a “força musical” de artistas para todos os gostos, mais de 150 lideranças indígenas, em seu Encontro Nacional, em Luziânia (GO), estão elaborando um diagnóstico preciso da questão indígena no Brasil e na conjuntura econômica e política mundial. O evento teve a assessoria do professor Ariovaldo Umbelino (USP), de Deborah Duprat, vice-procuradora-geral da República e coordenadora da 6ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF) e de Raquel Dodge, subprocuradora-geral da República e coordenadora da 2ª Câmara do MPF.
Debora Duprat, Saulo Feitosa,
Raquel Dodge, Babau Tupinambá

Informados sobre seus direitos, os povos indígenas estão preparados para defender seus territórios e sua vida, não a partir de hotéis de luxo ou atraídos por compensações musicais de artistas sertanejos, mas a partir de acomodações embaixo de lonas pretas, no VIII Acampamento Terra Livre, na Esplanada dos Ministérios, de Brasília. A lona preta é expressão de seu sofrimento causado pela negação de seus direitos. Durante o Encontro Nacional ouviu-se em todos os relatos da realidade indígena, que, em consequência dessa negação, as lideranças indígenas são criminalizadas, inúmeras crianças, por causa do descuido da saúde, são vítimas de uma morte prematura, e os territórios indígenas são progressivamente incorporados ao latifúndio da soja e da cana.
Ninawá Hunikut, Acre
Agitando a sua borduna, uma liderança (muito aplaudida) do Xingu chamou a atenção dos demais para o projeto da hidrelétrica Belo Monte: “Podem-nos negar nossos direitos, mas nosso direito à luta, não vão conseguir negar”.

"Lutar não foi em vão"

Ariovaldo Umbelino, Anibal Cordeiro Campos
Uma dessas muitas histórias de sofrimento, luta e vitória, que se ouviu nesses dias, foi contada por Anibal Cordeiro Campos, 45, pai de três filhos, trabalhador rural, liderança indígena potiguara, da Aldeia Jaraguá, município Rio Tinto/PB. A luta de Anibal libertou a aldeia do estrangulamento pela cana. Desde muitos anos, as usinas de cana-de-açúcar, da região (principalmente, a Japungú e a Miriri), arrendaram ou incorporaram as terras indígenas em seu domínio.
Na. Sra. dos Prazeres
 Quando os Potiguara, sob a liderança de Anibal, começaram a reagir contra o cerco da cana, e retomaram as suas terras, os donos das usinas armaram jagunços da região. “Ofereceram 70.000 reais por minha cabeça”, conta Anibal. Em março de 2009, um pistoleiro invadiu a sua casa e, na presença da mulher e de seus filhos, deu quatro tiros na cabeça de Anibal. No hospital tiraram as balas da cabeça de Anibal. Depois, a comunidade o escondeu numa casa oferecida pela irmã Juvanete, da Congregação das Irmãs de Santa Dorothéa, que há quatro anos mora na aldeia. Anibal me mostra as marcas que, milagrosamente, quase desapareceram. Na aldeia tem uma capela dedicada à Nossa Senhora dos Prazeres. Uma vez por mês, o padre vem da Bahia para celebrar a Missa. Juvanete e Anibal afirmam, que foi Nossa Senhora dos Prazeres, da qual ambos são fervorosos devotos, salvou o líder indígena. A devoção de Nossa Senhora dos Prazeres é idêntica com a devoção de Nossa Senhora das Sete Alegrias, uma devoção franciscana de Portugal. “Quantas terras vocês retomaram?”, eu pergunto. “Foram sete mil hectares”, responde Anibal. Sem dúvida, Nossa Senhora dos Prazeres é milagrosa e os Potiguara são corajosos.

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