Experiência como ilegal nos EUA leva brasileira a ajudar imigrantes no deserto
ONG deixa água e mantimentos para evitar mortes na perigosa fronteira com o México
Paula Resende, do R7
Brasileira Ana Luiza Reyngach faz parte do grupo de 2.000 voluntários da ONG Anjos do Deserto
A história de vida da jovem cearense Ana Luiza Reyngach nos Estados Unidos não foi das mais fáceis. Por dez anos, ela teve seus direitos reduzidos a quase zero na condição de imigrante ilegal. Agora, com os documentos em dia, a universitária vai até a fronteira no deserto ajudar quem se arrisca em uma das travessias mais perigosas do mundo.
Assim como outras 2.000 pessoas do mundo todo, a brasileira é voluntária da organização não governamental Anjos do Deserto (Border Angels, nome original em inglês). Fundada em 1986 por Enrique Morones, a ONG trabalha para evitar mortes na fronteira que separa Tijuana (México) e San Diego (EUA).
Eles deixam água, comida e roupas pelo caminho, além de educar sobre os perigos e privações por trás da busca ingênua pela terra prometida.
Embora não tenha se arriscado na fronteira, Ana sabe que a travessia é apenas o primeiro passo para desafios que envolvem trabalho precário, preconceito e, principalmente, ausência da cidadania.
- Meus pais estão ilegais até hoje, passamos por muitas dificuldades. Sem documentação, você não estuda, não dirige, não pode trabalhar, não tem plano de saúde. Eu tive a sorte de me casar e agora poderei estender minha cidadania aos meus pais no futuro.
Duas pessoas morrem por dia na travessia
Nascido nos EUA, mas de família mexicana, Morones diz não ter ideia de quantas vidas já ajudou a salvar. Mas afirma que, todos os dias, pelo menos duas pessoas morrem tentando cruzar a fronteira.
O coordenador da ONG responsabiliza pelo número alarmante a demora da tão esperada reforma imigratória, discutida há anos no Congresso dos EUA, e também o "muro assassino” construído pelos americanos para evitar a entrada de ilegais.
- É uma completa violação dos direitos humanos. Aquele muro já causou mais de 5.000 mortes desde outubro de 1994, inclusive de gente do Brasil. Ele não impediu a vinda dos imigrantes, apenas aumentou os obstáculos e, infelizmente, duas pessoas continuam morrendo todos os dias, em média.
Para tentar reverter o quadro, os Anjos do Deserto vão até as regiões montanhosas do Condado de San Diego e ao deserto do Vale Imperial para deixar água e alimentos nas estações quentes (verão e primavera) e agasalhos para os imigrantes não morrerem de frio no inverno e outono.
- Não estamos ajudando as pessoas a atravessarem a fronteira, apenas queremos evitar que morram desnecessariamente. Eles não vão lá pela nossa água, mas para dar uma vida melhor a suas famílias.
Imagem mostra distribuição de água na fronteira por voluntários da ONG Anjos do Deserto
Risco que não vale à pena
Escutando as histórias de vida dos imigrantes, Ana admite que já se questionou se o esforço vale a pena. Mesmo assim, ela lembra que boa parte se ilude com uma fantasia.
- Apesar de tudo, eu acho que não vale a pena. As pessoas vêm atrás de um sonho, mas quando chegam aqui descobrem que não têm direitos nenhum. É muito grande o sofrimento físico e psicológico depois.
Morones ainda lembra que quem está desesperado não cruza a fronteira por escolha, mas por necessidade.
- Por isso a importância de que realmente saibam o que está acontecendo para tomar sua decisão mais consciente.
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