7 de abr. de 2011

Aécio bate no PT e traça diretrizes da oposição

Em discurso que deve marcar início de atuação mais incisiva, tucano defendeu governo FHC e critica petistas; o plenário do Senado ficou cheio

Gabriel Castro
O senador Aécio Neves faz sua estreia com discurso de oposição no Senado: voz da oposição
O senador Aécio Neves faz sua estreia com discurso de oposição no Senado: voz da oposição (Geraldo Magela/Agência Senado)
 
Foram 24 minutos. Nove páginas de discurso. E Aécio Neves (PSDB-MG) deu o primeiro passo importante para fazer do Senado sua trincheira como líder da oposição no país. Como vinha fazendo desde que assumiu o mandato, o tucano se preocupou em não ser visto como um oposicionista exaltado. O senador fez questão de rechaçar as teses daqueles que o veem como moderado demais e, ao mesmo tempo, garantiu que terá o empenho para cobrar do governo uma atuação correta. Mas a mudança de tom ficou clara.
Cada frase do discurso de Aécio na tarde desta quarta-feira revelava um texto elaborado de forma minuciosa e detalhista. Não houve espaço para improvisos. Logo no início, ele já emplacou uma frase de efeito que deve ser usada para resumir sua atuação: "Os que não me conhecem bem e esperam encontrar em mim ataques pessoas no exercício da oposição vão se decepcionar. Não confundo agressividade com firmeza. Os que não me conhecem bem e acham que vão encontrar em mim tolerância diante dos erros praticados pelo governo também vão se decepcionar. Não confundo o direito à defesa e ao contraditório com complacência ou compadrio”, afirmou.

O ex-governador lembrou conquistas do governo Fernando Henrique Cardoso e bateu duro no PT quando lembrou que o partido se recusou a participar de momentos importantes do país, como o apoio a Tancredo Neves, ao governo de José Sarney, ao Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Nós estávamos lá, os nossos adversários não. Recusaram a convocação da história”, resumiu.


Depois de exaltar a gestão de FHC e fazer ressalvas ao marketing lulista (“O país não nasceu ontem”) e criticar a irresponsabilidade do PT (“Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT"), o senador passou a tratar dos primeiros 100 dias do governo de Dilma Rousseff. E citou casos recentes.
“Não é interesse do país a subordinação das agências reguladoras ao governo central. Não é interesse do país que o poder federal patrocine o grave aparelhamento e o inchaço do estado. Que o governismo avance sobre empresas privadas”, declarou. O neto de Tancredo Neves disse que oposição deve se fundamentar em três valores: coragem, ética e competência.
Acontecimento - Se a oposição prometida por Aécio será bem-sucedida, é cedo para dizer. Mas a ideia de transformar o discurso do senador num acontecimento político foi cumprida com perfeição. O plenário do Senado estava lotado não só dos integrantes da casa: deputados federais, prefeitos de oposição e nomes como o ex-governador José Serra estiveram presentes. A tribuna de honra da casa e a galeria ficaram completamente lotadas.

Quem ficou de fora teve de acompanhar o discurso no telão. O silêncio imperou entre os senadores durante o pronunciamento, acontecimento raro na casa. Sarney teve de pedir silêncio duas vezes: na primeira, ainda no meio do discurso, quando a galeria aplaudiu Aécio Neves. Na segunda, ao fim do discurso, quando também boa parte dos senadores juntou-se à ovação da claque.


Apartes - 
Os senadores presentes não quiserem perder a oportunidade de comentar o discurso de Aécio. Mas havia um problema: o tucano preferiu deixar as participações de colegas para o fim de seu discurso. Não sobrou tempo. Os senadores pediram e o presidente José Sarney (PMDB-AP) permitiu que os apartes seguissem por tempo indeterminado. Teve início, então, uma longa lista de discursos de parlamentares aliados e adversários para comentar o pronunciamento de Aécio Neves.

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