17 de abr. de 2011

"Argentina
 
Movimentos e entidades de DH comemoram sentença do último ditador"




Integrantes de organizações de direitos humanos e familiares das vítimas da ditadura na Argentina comemoraram  a condenação à prisão perpétua do último presidente do regime militar, Reynaldo Bignone, de 83 anos. "Por crimes de lesa humanidade são condenados à prisão", sentenciou a juíza María Lucía Cassaín.

Além de Bignone, também cumprirão prisão perpétua os ex-militares Santiago Omar Riveros e Martín Rodríguez, e o antigo subcomissário e ex-prefeito de Escobar, Luis Patti, acusado de sequestros e assassinatos. Todos são acusados de cometerem crimes de sequestros, torturas, assassinatos e desaparecimento de pessoas durante o regime militar no país, de 1976 a 1983. O ex-comissário Juan Fernando Meneghini recebeu a sentença de seis anos de prisão.

Ao lado de centenas de militantes de direitos humanos que seguravam cartazes e fotos de desaparecidos no período da ditadura, o secretário de Direitos Humanos da Argentina, Eduardo Luis Duhalde, elogiou o tribunal e disse que "não poderíamos esperar menos que a prisão perpétua para todos eles”.

"Hoje é um dia histórico para todos os argentinos de bem. Existem muitos países que estão olhando cada vez com mais respeito para a Argentina porque levamos as bandeiras da verdade e da justiça para os 30 mil (desaparecidos)", comemorou a presidenta das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto. A filha dela foi morta durante o regime militar e o seu neto, que hoje teria 32 anos, ainda está desaparecido.

O Tribunal Oral Federal 1 de San Martín, em Buenos Aires, determinou também que os condenados cumpram a sentença em prisão comum. Para o secretário Duhalde e Estela de Carlotto essa decisão foi acertada, já que os militares são pessoas ‘perigosas'.

De acordo com estimativas de organizações de direitos humanos, durante a ditadura na Argentina desapareceram 30 mil pessoas e 500 crianças, filhos de desaparecidos, que foram roubados e adotados por repressores ou por seus cúmplices. Mais de 100 destas crianças já recuperaram sua verdadeira identidade.

Bignone foi presidente entre julho de 1982 e dezembro de 1983, no final do regime militar. Em 2010 ele já havia sido condenado a 25 anos de prisão por crimes de repressão na guarnição militar de Campo de Maio, que abrigava quatro centros de tortura e uma maternidade.

Além deste processo, o ex-ditador também enfrenta acusações por mais de 30 casos de roubo de bebês durante o período militar. Bignone ainda será submetido a mais um julgamento no próximo mês de agosto, junto com outros quatro repressores, por ter sequestrado 22 vítimas, cinco delas torturadas.

Durante o julgamento foi lembrado o sequestro e o assassinato do ex-guerrilheiro Gastón Goncalvez e do ex-deputado nacional Diego Muñiz Barreto, que foi detido ilegalmente em Escobar. Gastón Goncalves era militante do antigo grupo Montoneros e foi sequestrado em 24 de março de 1976, dia do golpe que deu início à ditadura no país. Seu cadáver foi encontrado dias depois.

Desde que a lei de anistia foi revogada em 2005, a Justiça argentina condenou mais de 200 líderes do regime militar, enquanto outros casos contra cerca de 800 ex-militares e policiais estão em andamento.

Agência Brasil

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