1 de mai. de 2011

"A Arte, do Morro para a cidade"

 

 

Exposição Morro da Favela mostra a Providência do olhar do Fotógrafo Maurício Hora

Exposição Morro da Favela
Seria possível fotografar a beleza do Rio de Janeiro sem se olhar o Pão e Açúcar, o Cristo Redentor ou o Arpuador, se distanciando do Municipal, do Palácio da República, do Leblon ou de Copacabana? Este é o trabalho de Maurício Hora, fotógrafo do Morro da Providência, que há mais de 20 anos apresenta um lado diferente da cidade, uma favela espontânea, sob uma perspectiva localizada: o olhar que o morro tem de si e do seu espaço na metrópole.
Espaço Cultural dos Correios - Juiz de Fora
Sua forma de retratar essa realidade cotidiana está exposta no Espaço Cultural dos Correios, na exposição Morro da Favela, em fotografias que contam a história da primeira favela carioca, a Providência.
O fotógrafo Ivan Lima já dizia que a fotografia, antes de tudo, é um testemunho. Para Maurício Hora, o fotógrafo da favela, como costuma se denominar, a Providência é muito mais que um lugar a ser retratado. Lá, ele nasceu e foi criado e reside até hoje. Um personagem que resolveu contar história com luz e câmera.
A fotografia se tornou um objeto de manifestação para o fotógrafo, de discussão do espaço ocupado pela favela na realidade do Rio de Janeiro mostrando o “olhar da favela sobre a cidade”. “Eu não levei a fotografia para a favela, eu tirei a fotografia da favela… porque a beleza sempre existiu”, revela o artista. Apresentando o que não é mostrado, suas fotografias descobrem um espaço vivo, com personagens reais, de forma humana, abrindo espaço, sim, para se discutir os problemas do morro, mas essencialmente explicitando a identidade da favela, longe da violência, do trafico e da miséria explorados pela mídia que, para ele, não contribuem para a transformação do espaço.  “A minha fotografia não explícita uma violência. É claro que eu poderia fotografar isso muito bem, afinal, eu estou dentro da favela. Mas não me interessa porque eu não vou conseguir transformar. Eu prefiro fazer o espectador da favela subir na favela, porque ai eu vou conseguir transformar o olhar que se tem desse espaço.” Para ele a violência não pode ser vista como mito, mas também não constrói identidade e por isso deve ser encarada como uma ferida na favela, não como uma assimilação dela. “A violência decorre de uma falta de interação social, de uma divisão social extrema. É o lado de lá querendo engolir o de cá”, explica Maurício Hora. Sobre o papel da fotografia como transformadora o fotógrafo expõem que “ela dá resultado sim, mas somente quando ela faz o espectador da favela ver o morro com um olhar da favela”.
A estudante Ivilaine no Morro da Providência
A estudante Ivilaine Cássia na cobertura da sede do Favelarte, na Casa Amarela - Morro da Providência, RJ
A estudante de Turismo, Ivilaine Cássia de 26 anos, conferiu o trabalho de Maurício Hora exposto em Juiz de Fora e disse ter se impressionado com a construção artística. “Fiquei surpresa com a percepção que ele tem sobre um lugar que inicialmente não é visto pelas pessoas da maneira como foi mostrado. Gostei tanto que fui ao Morro da Providência e vi que ele não retrata nada além da realidade. Tudo é como sua arte mostra: maravilhoso.” Para ela, Hora demonstrou que a favela não pode ser tida como um espaço a ser excluído das cidades. Ela faz parte da cidade e constrói a história da cidade. Sobre o que mais a impressionou a estudante contou que se emocionou especialmente com as fotografias que retratam o cotidiano da Providência, do homem com sua bacia, às conversas e sorrisos dos moradores.

Trajetória da Favela da Providência
Mas o trabalho de Maurício Hora vai além da fotografia. Ele é idealizador do Projeto Favelarte que surgiu como um site com temática ativista, com espaço para a divulgação da fotografia, mas acabou superando esse patamar inicial quando Hora percebeu a necessidade de transformar o Projeto em Instituto. “O projeto foi tomando proporções cada vez maiores; conseguimos tanta coisa para o Favelarte que ele precisou se tornar uma instituição.” Hoje o Favelarte é um instituto, no alto do morro da Providência, na Casa Amarela, e trabalha pelo resgate da identidade do Morro através da pesquisa e, como não, da própria fotografia. Segundo o historiador, Luiz Torres – integrante do projeto –, o nome Morro da Favela – como era chamada a Providência – é uma forma de resgatar a identidade que se tinha no morro, de uma fortaleza engajada pela mistura de cores, de intensa cultura.
Esse olhar sobre uma favela real, já surtiu bons resultados. Além de o projeto ter se expandido, levou a arte do fotógrafo da favela para Paris, na França. Em 2005, Maurício Hora foi chamado para expor suas fotografias no metrô de Paris no ano do Brasil na França e surpreendeu com a exposição Favelité, cobrindo 70 metros do metrô parisiense com fotografias da Providência em tamanho real. Quatro anos depois, Maurício Hora surpreendia novamente na Casa França Brasil, no Rio, convidado pelo amigo e fotógrafo, o francês JR, parceiro do Favelarte. Perguntado sobre a maneira como suas fotografias exploram da luz do ambiente, Maurício Hora disse que se trata apenas do olhar. “Não tem maquiagem nenhuma, o que eu mostro ali é o que eu vejo. Se está bonita aquela luz, é aquela luz que minha fotografia vê”.
exposição
A exposição Morro da Favela permaneceu em Juiz de Fora  no Espaço Cultural dos Correios contado com grande aprovação do público , inclusive dos 600 alunos de escolas públicas da cidade – muitos que tiveram seu primeiro contato com a fotografia e principalmente com a realidade das favelas.
Alunos na exposição

→ O Morro da Providência completou, este ano, 113 anos de favela resgatando sua história através do Instituto Favelarte. O Favelarte está aberto para todos que querem contribuir com o projeto ou mesmo saber mais sobre a história desses espaços que compõem a cidade.
Fotógrafo Maurício Hora
Fotógrafo Maurício Hora - Foto Culto Circuito

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