28 de abr. de 2011

Poucas e Boas

Dilma : "Um governo ainda sem rumo..."


 
Ontem, a presidente falou algumas obviedades, mas não deixou de ferir o bom senso. Referindo-se à inflação disse aquilo que se esperava, a de que o seu governo está preocupado. Paulo Rabello Castro (ver abaixo) afirma em seu artigo que, nestes primeiros meses de governo Dilma, não foi possível descortinar qual direção Dilma pretende dar ao seu governo.

A inflação é apenas uma das questões, mas não é a única. E não é como o atrapalhado Mantega tentou insinuar de que a inflação é mundial. Mentira. Quem lê jornais sabe que a inflação brasileira se deriva de causas internas, não externas. Nosso ministro da Fazenda acha que basta dizer qualquer asneira para se justificar que ficará tudo bem. Uma ova, senhor Mantega! O que existe de verdade é que temos um governo que herdou uma herança maldita que, diga-se de passagem, o senhor é co-responsável juntamente com a atual presidente. Aliás, Dilma disse que não podia esconder que a inflação está subindo, entre outros fatores, pelo aumento de preços na área de bens, alimentos e etanol. A presidente, afirmou, no entanto, que está atenta a todas as pressões inflacionárias e fazendo análises. Disse mais: que o governo não vai “aquecer” o debate econômico. Declarando por duas vezes que cumpre seus compromissos, ela voltou a dizer que não permitirá um descontrole da inflação. “Todo aumento da inflação vai exigir que o governo tenha uma atenção bastante especial sobre as suas fontes e causas. Então eu quero dizer a esse conselho: o meu governo está diuturnamente, e até noturnamente (sic), atento a todas as pressões inflacionárias, venham de onde vier, e fazendo permanente análise dela”, disse Dilma. Em um discurso forte na primeira reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) de seu governo, Dilma pediu que os empresários e a sociedade confiem nas medidas adotadas pelo governo para o controle da alta de preço. Segundo a presidente, parte das cobranças por novas medidas é motivada por calor e paixão do debate.

Vamos por um pouco de ordem nesta confusão de “análises presidenciais”. Primeiro, que o governo tentou sim esconder da sociedade que a inflação estava sob controle. Logo no inicio do ano, a subida dos preços não passava de um espirro que arrefeceria em seguida. Mantega inclusive previu que, em março, os preços começariam a cair. Março já foi mas a inflação ainda não.

Dilma disse que está atenta e fazendo análises. Adoraria que saísse logo das análises e partisse para “os finalmente”. Inflação é coisa com a qual não se brinca e, se demorar a agir, ela cria raízes e fica permanente. Quanto a confiar nas medidas que o governo está adotando, adoraria poder colaborar. Mas não dá, e por uma única razão: apesar do discurso, o que não se vê são justamente medidas adotadas pelo governo. Portanto, é difícil confiar em sujeito oculto. Quanto a sociedade cobrar “novas medidas”, ela está em seu direito fazê-lo. O que não pode é o governo dizer que não dá para esconder a inflação e, ao mesmo tempo, dizer que a cobrança que feita, é movida pelo calor e paixão do debate. Ocorre, dona Dilma e senhor Mantega, que o que está faltando é exatamente mais debate. Não se pode é querer tapar a voz da sociedade, já que ela é quem mais sofre pela omissão e incompetência governamentais.

Entendo que dona Dilma padeça de um grave mal, como vimos abaixo, que é sua total falta de capacidade de análise. Seus diagnósticos são, costumeiramente, de um primarismo doloroso.

Já disse que o grande problema de Dilma é ter que fazer escolhas, função por sinal, da alçada de todo o governante. A leitura que deve ser feita é por que, apesar dos juros e do câmbio, os preços internamente teimam em subir? Seria ótimo que dona Dilma olhasse para dentro do próprio governo que comanda, além de dar uma olhada rápida no passado recente, mais precisamente nos últimos dois anos do governo Lula e descobrirá facilmente todas as respostas.

O tempo que tinha para agir com presteza para combater a inflação, recuperar o equilíbrio fiscal e garantir no médio prazo crescimento sustentável foram jogados fora por uma questão de escolha. Mais preocupada em garantir poder político, abandonou de vez as preocupações com a economia por entender que os problemas se resolveriam por osmose ou por causas naturais. Deixar de fazer o que é certo, não é apenas sinal de incompetência, mas, também, de falta de coragem para tomar decisões que, muito embora sejam de alto custo político no curto prazo, garantem ao longo do tempo a estabilidade que o país conquistou com muito sacrifício.

A farra da gastança promovida por Lula para fazer sua sucessão está agora cobrando seu preço. A vitória nas urnas foi de Lula-Dilma, mas a fatura está sendo apresentada e cobrada de todos nós. Além disto, é indiscutível que o aumento do tamanho do Estado, aumento por sinal abusivo, inútil e desnecessário, impõe gastos além da capacidade que a sociedade tem para bancar tamanho desperdício. Não é por outra que, por outro lado, falte dinheiro para saúde, educação, segurança, saneamento e infraestrutura. O inchaço da máquina pública não se dá apenas para acomodar a companheirada. Contando com uma base de apoio onde se regalam cerca de 17 partidos políticos, tanto apoio cobra o preço que os políticos mais adoram: cargos, com altos ganhos e benefícios, mesmo que a natureza do cargo seja totalmente inócua, vazia.

Além disto, some-se que o PT não abre mão de jeito algum de seu projeto de poder, razão pela qual, certas medidas, por mais necessárias que sejam, se colocadas como risco a este projeto, mesmo que em beneficio geral do país, serão imediatamente descartadas. Um caso exemplar deste “modelo” é a situação dos aeroportos brasileiros. Agora, anuncia-se, diante da ameaça real de um vexame mundial, que alguns aeroportos seram concedidos à iniciativa privada, solução que já deveria ter sido tomada há bem mais tempo, mas que foi retardada por conta do interesse eleitoreiro de Lula e Dilma. Entretanto, creio que a medida chega agora com um grande atraso.

No discurso, Dilma se referiu muito à Copa do Mundo em 2014 e às Olimpíadas em 2016. Contudo, alguém precisa avisá-la que, um ano antes da Copa, já em 2013, teremos a Copa das Confederações e, até lá, muita coisa já deverá estar pronta e funcionando. Há muito tempo que alerto que o país está excessivamente preocupado com as arenas e os aeroportos. Mas a Copa não nos exigirá apenas isto. Neste sentido, o Brasil jogou no lixo o tempo útil que tinha e, lamentavelmente, condenou a Copa no Brasil a ser apenas um arremedo do que poderia ser um grande evento em favor da nossa imagem externa. Vamos apenas “quebrar galho”. Nada muito além disto.

Quanto às questões econômicas, infelizmente, o governo Dilma continua sem ação e sem rumo. Jogamos oito anos em puro desperdício de tempo, oportunidades e recursos, sem conduzir o país para as reformas que nos garantiriam um presente menos tumultuado e com melhores perspectivas. Não será com esta turma que está aí que sairemos das dificuldades, a menos que a economia mundial tenha uma recuperação espetacular nos próximos meses e nos impulsione, a exemplo do que ocorreu no governo Lula, entre 2003 a 2007. Como tal hipótese é bastante improvável, teremos que encontrar nossas próprias soluções. O raio é que insistimos na fórmula errada. Precisa reduzir o tamanho do Estado. O PT vai deixar? Precisamos reduzir despesas correntes, o que significa conter gastos ditos “sociais”. O PT vai abrir mão de atender seu curral eleitoral, com eleições no próximo ano? Precisamos de um projeto de desenvolvimento sério e voltado ao interesse do país e que, nas atuais circunstâncias, se contrapõe ao projeto de poder do governo de plantão. O PT vai abrir mão de seu interesse egoísta que prejudica o país visivelmente? E as reformas com seu sabor de prejuízo político, serão levadas avante mesmo diante de um prejuízo nas urnas?

Portanto, se quando podia ter feito o dever de casa, o partido priorizou sua ambição política, não será agora que ele voltará atrás para implementar as medidas que clamam urgência.

Durante a campanha, Dilma prometeu e se comprometeu em reduzir a carga tributária. O que vimos nestes primeiros quatro meses? O oposto do anunciado, ou seja, a carga aumentou. E o comprometimento com novas despesas de custeio, também. Nesta semana, talvez, o Banco Central anuncie nova intenção de aumentar os juros que, por conseguinte, baterão de frente com as dificuldades cambiais. Claro que dá, ao contrário do que afirma Mantega, para compatibilizar câmbio e juros sem comprometer absolutamente nada. Mas para tanto há um preço político a pagar que este governo não tem demonstrado a menor disposição em fazê-lo.

E, apesar do comprometimento das contas públicas ter avançado em demasia o sinal, ainda dá tempo para reverter o atual quadro de dificuldades. O diabo é que não se vê nenhuma intenção do governo em adotar as medidas necessárias para tanto. Assim, seguiremos sem rumo por um bom tempo, com a nossa estabilidade econômica ficando cada dia mais deteriorada.

O doloroso no caso do governo petista, já em seu nono ano de poder, é constatar que eles não aprenderam nada com suas próprias mazelas. Fruto de sua visão desmiolada, o país não para de enfrentar um apagão atrás do outro. Aeroportos, segurança pública, saúde, e até na energia elétrica que, de forma absolutamente vigarista, sofre com apagões em determinadas regiões do país, por absoluta falta de investimentos em equipamentos e linhas de transmissão. A última, conforme vimos nesta edição, era onde menos se poderia esperar: a dos combustíveis. Enterra-se de vez a mentira que Lula se encarregou de contar e enganar o país, a da autossuficiência. Isto tudo demonstra de forma cabal que estamos diante de um governo não apenas incompetente, mas, sobretudo, de um governo sem projeto em favor do país e sem rumo. Sua única obsessão é o poder pelo poder.

Quanto ao combate à inflação que Dilma promete manter, mas sem comprometer o crescimento, é preciso considerar que esta é uma guerra que não se vence apenas no discurso. Não bastam boas intenções, é preciso dosar o remédio e ele é amargo. Enquanto o Brasil experimentou a fantasia, sofreu duramente, e a um custo social escandaloso. Somente quando o país teve um governante com a coragem suficiente de pagar o preço político que era necessário para vencer e derrubar a inflação, conseguimos superar as dificuldades e domar o dragão. Goste-se ou não, será preciso conter o crescimento e, por vias transversas, restringir o crédito, tanto na oferta como nos prazos de pagamento. Tentar compatibilizar as duas coisas, além de se apostar perigosamente no imponderável, é empurrar com a barriga um problema que pode ser resolvido agora, mas sem artifícios, sem enganação, sem acomodações, sem meias-medidas. O caminho que o governo escolheu até aqui, lamento informar, só servirá para acender a chama do dragão inflacionário. É combater incêndio com gasolina pura. 
 
Adelson Elias Vasconcellos

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