16 de abr. de 2011

"Mãe ‘volta’ à escola para filho superar trauma "
Após ataque, mãe quer se matricular em escola para ajudar a filha"
Pedro Dantas
Na segunda-feira, a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, retomará as aulas, após o maior massacre já realizado dentro de uma escola brasileira. Mas muitos jovens não querem voltar ao colégio e mães decidiram até se matricular na escola, para ajudar os filhos a superar o trauma.
Pais, professores e psicólogos tiveram ontem, durante reunião para preparar o retorno das atividades escolares, uma amostra da difícil tarefa de convencer alunos a retomar a rotina. Muitos do turno da manhã, que presenciaram a morte de 12 colegas há uma semana, estão traumatizados e não querem voltar.
A escola marcou o retorno dos alunos do turno da tarde para segunda-feira, às 13 horas. O turno da manhã voltará às aulas no dia seguinte. A Guarda Municipal vai manter um agente na porta do colégio durante os três turnos – e um carro da Polícia Militar já está de guarda no local.
O medo das crianças alterou a rotina das famílias. A costureira Rosângela da Costa Cruz, de 46 anos, se matriculou na escola e voltará a estudar, a pedido da filha, Lorrainy Cruz, de 15. A garota não aceita ir à escola sozinha, depois que viu a melhor amiga, Laryssa, ser morta pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira.
Lorena Rocha, de 14 anos, não quer pisar na escola novamente. Suas primas, as gêmeas Bianca e Brenda, foram baleadas pelo atirador. A primeira morreu, e a segunda ficou ferida. A mãe de Lorena conseguiu uma bolsa de estudos para ela em um colégio particular da região.
“Aqui não tem mais clima. Uma sobrinha minha está morta e a outra levou dois tiros nas mãos e tem uma bala alojada na nuca. Não posso pedir para minha filha voltar”, disse Perla Rocha, de 34 anos.
Já a vendedora Elisabeth Gomes do Nascimento, de 32 anos, foi ao colégio ouvir do psicólogo o que fazer com o filho Matheus Gomes do Nascimento, de 10. “Ele só dorme com a luz acesa e toma banho com uma vassoura escorando a porta, para não fechar. Ele diz que não quer sair, porque tem muita gente maluca no mundo.”
Desde segunda-feira, a escola passa por obras para limpar os vestígios do massacre. Os buracos de bala já foram todos fechados. As salas onde Wellington disparou contra estudantes estão sendo descaracterizadas. A primeira vai ser conectada à biblioteca, a outra vai se tornar uma sala multifuncional, para atender também a crianças com necessidades especiais.
Um grupo de 60 profissionais, entre psicólogos, educadores, assistentes sociais e enfermeiros se reveza em turnos para ajudar professores e funcionários da unidade a superar o trauma do ataque.
Atendimento psicológico também é oferecido aos estudantes e seus parentes em postos de saúde da região. As provas bimestrais da rede municipal, que acontecem em abril, foram suspensas. Ainda será elaborado um calendário para a reposição das aulas perdidas no período.
Feridos
A secretaria estadual da Saúde informou ontem que cinco crianças feridas na tragédia de Realengo permanecem internadas. Quatro ainda estão em CTIs de hospitais da rede estadual, com quadro estável, e uma evolui bem em leito de enfermaria.

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