Contra Belo Monte no Xingu, pesca, romaria e almoço coletivo
Embarcações desfilam numa romaria fluvial pelo Rio Xingu, reunindo 250 pescadores de Altamira, Vitória do Xingu, Belo Monte, Senador José Porfírio e Porto de Moz /XINGU VIVO |
Os barcos de pesca chegam em pequenos grupos no porto de Altamira, no Pará, próximo ao local onde se ergue o edifício da Eletronorte. Ao meio-dia, dezenas de embarcações desfilam numa romaria fluvial, pelo Rio Xingu, reunindo 250 pescadores de Altamira, Vitória do Xingu, Belo Monte, Senador José Porfírio e Porto de Moz em protesto contra a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu.
É mais uma manifestação organizada pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre e outras entidades que se opõem à construção de usinas hidrelétricas na Bacia desse Rio e organizam constantes protestos – em várias partes do país, especialmente em Altamira um dos municípios que será grandemente afetado pela obra, já listada no Mapa Ambiental da Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz e Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional.
Pescadores comemaram a captura de seis toneladas de pirarara, pacu, piranha, surubim, tucunaré, cachorra, pescada, curimatá, poraquê entre as principais espécies /XINGU VIVO |
Almoço comunitário
Após três dias de pesca, em período de águas, o grupo de pescadores comemorou a captura de seis toneladas de pirarara, pacu, piranha, surubim, tucunaré, cachorra, pescada, curimatá, poraquê entre as principais espécies. No porto da cidade, enquanto esperavam o retorno da pescaria, homens e mulheres teceram redes num ato simbólico de integração das populações xinguanas na luta contra a usina.
Nesta luta que une a população local e povos indígenas o movimento foi pacifista à moda do líder Gandhi. Os peixes foram limpos, preparados e ali mesmo serviram de base para o almoço coletivo dos que compareceram ao protesto. São agricultores, ribeirinhos, agricultores, pescadores, moradores da cidade, indígenas e gente que atua em movimentos sociais locais que se preocupam com o futuro da natureza e das gentes que nela vivem. Outro tanto de peixe foi doado para entidades de apoio às famílias carentes de Altamira.
O peixe é base de alimentação e da economia das comunidades indígenas e ribeirinhas da Bacia do Xingu |
Insegurança alimentar
O peixe é base de alimentação e da economia das comunidades indígenas e ribeirinhas da Bacia do Xingu. E, segundo o próprio relatório de impacto ambiental da obra elaborado pelo Ibama, a construção da usina acabará com parte do estoque e espécimes de peixes da região. A coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Antonia Melo, disse estar claro para a cidade – Altamira - que centenas de famílias que vivem da pesca perderão essa fonte de alimento e de lazer.
Ela considera que a adesão de pescadores dos diversos municípios e comunidades fortaleceu a resistência contra a usina. “Algumas lideranças capitularam, mas o entendimento de que haverá perdas irreparáveis está mantém a resistência dos povos. Hoje os pescadores deram seu grito contra Belo Monte, vão se mobilizar muito mais contra a usina”.
Reivindicação
Os manifestantes exigem a manutenção do percurso natural do rio Xingu, preservando assim as diversas espécies vivas que habitam e dependem do rio. Assim, haveria o respeito ao direito das populações que sobrevivem dos frutos retirados do rio. Nessa manifestação os pescadores fizeram o contraponto entre a abundância que a natureza oferece ao ser humano, se ele cuidar bem dela, à procura do desenvolvimento a qualquer custo, modelo econômico ultrapassado e sem futuro, proposto por Belo Monte.
A obra também afetará o mercado de espécies ornamentais, a exemplo do zebra-cascudo, espécie endêmico da Volta Grande, famoso no mundo inteiro entre aquaristas.
Um a um, os prejuízos
São problemas ambientais questionados sob o ponto de vista das comunidades indígenas:
■ Redução drástica do potencial pesqueiro e seu impacto na qualidade da alimentação das populações indígenas, na dieta alimentar indígena, impactos sobre caça e insegurança alimentar;
■ Diminuição da vazão dos rios no entorno da Terra Indígena Juruna do Paquissamba + Juruna km 17 e Arara da Volta Grande, na margem esquerda da Volta Grande do Xingu, causando rebaixamento do lençol freático, períodos mais severos de seca e dificuldades na obtenção de água potável;
■ O agravamento do período de seca, por sua vez, acarretaria a formação de empoçamentos, e aumento da incidência de vetores de doenças, principalmente malária e dengue;
■ Isolamento das aldeias pelas barragens e canteiros de obra, rompimento da comunicação dos índios Juruna das Terras Indígenas com aqueles que vivem na cidade de Altamira;
■ O início das obras, além de inundar parte da área urbana de Altamira, com o desalojamento de mais de quatro mil famílias, poderá causar outros problemas, entre os quais, o inchaço das cidades da região, a ocupação desordenada da terra, a especulação imobiliária e a carência de políticas públicas para dar adequado aproveitamento às receitas geradas pelo empreendimento.
ANA MARIA MEJIA
Especial para Amazônias
Especial para Amazônias
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