Por: Vladimir HernándezA queima de mulheres na Argentina
O aumento de ataques incendiários abre o baú do problema da violência de gênero na Argentina.Na Argentina, a violência de gênero subiu um novo degrau no ranking do horror: no último ano se registra uma nova onda de casos conhecidos de mulheres que morrem queimadas por seus companheiros de relação.
“Minha filha foi cozida e moída a base de golpes, e depois lhe atearam fogo “, contou à BBC Mundo Elsa Jerez, mãe de Fátima Catán, quem morreu em agosto passado, na província de Buenos Aires, devido a graves queimaduras em 95% do corpo. Os pais responsabilizaram o namorado, de quem já se conhecia denuncias anteriores de que a maltratava.O caso de Fátima, que estampou manchetes em diversos diários, não é o único. Somente este ano já são 14 as mulheres que perderam a vida por queimaduras em incidentes onde a suspeita (ou a sentença) recai sobre o marido ou namorado.Esta cifra já superou amplamente a das 11 mortes deste tipo registradas em 2010, segundo dados da ONG La Casa del Encuentro, um grupo que luta contra a violência de gênero.“O problema é que queimar a mulher é uma agressão mais fácil de ocultar. Não como os golpes que deixam marcas. Na maioria dos casos, o marido alega que ela se suicidou ou que foi um acidente”, comentou à BBC Mundo Fabiana Túñez, diretora de La Casa del Encuentro.Os que trabalham na área de proteção ao gênero feminino acreditam também que dois outros fatores impulsam o aumento ataques incendiários: a exposição garantida pela imprensa e a impunidade.Há um ano, houve um caso célebre que sacudiu a opinião pública. Wanda Taddei, esposa de Eduardo Vásquez, conhecido baterista da banda Los Callejeros, faleceu devido a graves queimaduras, em um confuso episódio que levantou sérios questionamentos sobre seu marido*A ONG La Casa del Encuentro registrou 11 mortes por queimaduras em 2010.Num princípio, Vásquez foi deixado em liberdade por “falta de mérito”, segundo o juiz. Porém, meses depois, passou a ser processado por homicídio qualificado.É justamente a falta de castigo imediato, ou de investigação dos fatos, o que Túñez afirma que exacerba as possibilidades de que se repitam as agressões deste tipo.“O caso de Wanda Taddei parecia que iria terminar em impunidade, porque a Justiça tardou bastante para encontrar ao verdadeiro responsável, e deu ao agressor o tempo suficiente para que pudesse construir um discurso e recontar o acontecido – o que também sucedeu em casos posteriores –, e a isso somamos a impossibilidade da vítima de declarar (pois já está morta)”, analisou Túñez.Contexto
O aumento dos ataques incendiários, abre o baú do problema da violência de gênero na Argentina, e provavelmente haverá casos semelhantes em toda a América Latina – nota do tradutor: em julho de 2007, na cidade de Punta Arenas, extremo sul do Chile, um homem prendeu a namorada grávida de oito meses dentro de um carro, despejou querosene no veículo e ateaou fogo. Apesar de ter 95% dos seu corpo queimado, a mulher sobreviveu, e também o bebê, uma menina que, outra vez involuntariamente, foi pivô de outro caso de sofrimento da mãe, porque a pesar de o agressor ter confessado e ter sido preso imediatamente (não era réu primário, e sua condenação anterior também havia sido por graves agressões a outra namorada) a família dele resolveu brigar pela guarda da criança, e o processo parece que ainda corre na Justiça chilena (ver aqui). Houve outros casos de mulheres queimadas no Chile nos últuimos anos, mas esse foi mais assombroso e o único que teve grande repercussão midiática.“É lamentável que agora a atenção esteja totalmente centrada nestes casos de mulheres queimadas, quando não representam a ampla magnitude do que realmente é a violência de gênero”, acusou Túñez.A ONG publicou recentemente um estudo que revela que em 2010 foram 260 as mulheres que morreram por golpes, balas ou punhaladas; apenas 11 dos falecimentos foram por queimaduras provocadas por seus companheiros.Para a deputada Cecilia Merchán, o “femicídio” é a principal causa de insegurança para as argentinas.“A morte de 260 mulheres no ano passado, é uma barbaridade, e representa um aumento de 12% a13% em comparação com 2009″, afirmou à BBC Mundo a deputada Cecilia Merchán, da aliança Libres del Sur.A legisladora introduziu no Congresso, há poucos dias, um projeto de lei que busca reformar o Código Penal para incluir o delito de “femicídio” – ou seja, um homicídio agravado pela violência de gênero.“Esta é a principal causa de insegurança para as mulheres na Argentina. Quando falamos de roubos ou da violência urbana não se menciona a violência doméstica”, indicou Merchán.O Congresso argentino reiniciou sessões na última terça, no que será o último período legislativo do atual govirno de Cristina Kirchner antes das eleições Gerais, no fim de ano.Entretanto, o debate eleitoral dos próximos meses não necessariamente tería porque entravar a discussão de uma nova lei que proteja as mulheres de ataques domésticos, segundo Merchán.“Quando nós introduzimos nossa proposta legislativa, logo se apresentaram outros quatro projetos mais, e por isso creio que a reforma tem muitas posibilidades de avançar”, apontou.Mães como a de Fátima Catán esperam que medidas deste tipo evitem que esses ataques sigam se repetindo.
15 de abr. de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário