Sonhos de criança: vítimas planejavam ser jogador de futebol, modelo ou dar casa para a mãe
RIO - Milena sonhava ser modelo, assim como Larissa Atanásio, mas Milena vislumbrava também uma carreira na Aeronáutica. Laryssa Martins queria ser marinheira. Mariana acordava cedo para estudar, pois sonhava dar uma casa para a mãe. No fundo, gostava mesmo era de jogar futebol. Já Igor queria não apenas ser jogador profissional, mas com a camisa do Flamengo. Como o garoto, Karine queria brilhar no Maracanã - na semana que vem, numa prova de atletismo no Célio de Barros.
- Não consigo esquecer o barulho dos tiros. Como pode uma pessoa fazer isso? Por causa dele, vários sonhos se acabaram - resumiu a estudante Isabela da Silva, de 12 anos, colega da maioria das meninas mortas no ataque.
A costureira Ana Rosa Alves era tia de Milena dos Santos Nascimento e falou da dedicação da adolescente de 14 anos:
- Milena era uma menina doce. Dizia que queria fazer faculdade e ser modelo para dar um futuro melhor para a mãe - disse a tia, que foi ao velório depois de amparar as irmãs de Milena, Tainá e Elena, colegas de escola que conseguiram escapar da mira do atirador.
" Milena era uma menina doce. Dizia que queria fazer faculdade e ser modelo para dar um futuro melhor para a mãe "
Mariana de Souza, 12 anos, era conhecida pelos colegas pelas boas notas. "Só MB e B" disse mais de um amigo, em referência aos conceitos "muito bom" e "bom". Ela havia sido transferida para a Tasso da Silveira no meio do ano passado para estudar mais perto de casa.
- A família está destruída. Ela era estudiosa e dizia que queria ser alguém na vida para comprar um casa para a mãe, que é empregada doméstica - contou o tio da menina, Luiz Alberto Costa.
Aos prantos, o menino Eduardo Moraes da Silva, de 11 anos, contou na sexta-feira que o sonho do irmão, Igor Moraes, de 13 anos, uma das vítimas da tragédia, era ser jogador de futebol. Em fotos na internet, ele aparecia com a camisa do Flamengo.
- Meu irmão queria ser jogador de futebol - contou Eduardo.
Vários garotos que jogavam com Igor no São Paulo, time do Condomínio Parque Residencial Piraguara, onde o menino morava, estiveram na sexta no cemitério de Sulacap. O presidente do Vasco da Gama, Roberto Dinamite, foi ao local levar sua solidariedade à família. Igor jogava também em uma escolinha que levava o nome de Roberto.
- Ele estava numa escolinha de futebol e numa escola formal preparando seu futuro. Ou seja, estava fazendo tudo direitinho e acontece uma coisa dessas! Não sei nem o que dizer - lamentou Roberto, visivelmente abatido.
- Ele jogava na lateral, mas, como era muito habilidoso, eu o passei para o meio campo - contou Walmir de Souza, técnico do menino na escolinha de Roberto.
" Ele jogava na lateral, mas, como era muito habilidoso, eu o passei para o meio campo "
Eram desejos e expectativas de adolescentes começando a vida. Curso de modelo e de atletismo, aulas de jazz, o primeiro emprego ou simplesmente planos para uma festa de 15 anos.
Luiza Paula da Silveira, de 14 anos, fazia aulas de inglês e adorava ir à academia de ginástica. Ela queria ficar em forma para o aniversário de 15 anos de uma amiga, no final do ano. Outro sonho de Luiza era trocar de escola, segundo a tia da jovem, Cristiane da Silva Machado.
- Ela teve problemas com uma professora no final do ano e não queria mais estudar lá. Pediu muitas vezes a mãe para sair da escola. Chegou a me ligar para perguntar se eu poderia ajudar a pagar uma escola particular. Mas, infelizmente, não tínhamos condições. Minha cunhada tentou bolsa e vaga em outros colégios. Ela teria a resposta de um deles hoje. Mas agora não adianta mais porque um louco tirou a vida dela - desabafou.
Cristiane contou que a menina tentou falar com os pais, pelo celular, no momento do ataque:
- Por volta de 8h10m ela ligou para a mãe, que não atendeu porque estava longe do telefone. Ela, então, ligou para o meu irmão. Eles tinham um acordo: ela dava um toque e desligava para ele retornar. Mas quando ele voltou a ligar, já não conseguiu contato. Acho que na hora do desespero ela tentou pedir socorro. Mas não conseguimos.
Já Larissa Santos Atanásio sonhava em ser modelo. Segundo o pai da jovem, Robson Atanásio, Larissa já estava organizando sua festa de 15 anos, que aconteceria no dia 18 de dezembro de 2012.
- Já estávamos preparando tudo. Ele tinha também o sonho de ser modelo, queria fazer jazz. Mas o sonho dela foi encerrado. Ela tinha um futuro pela frente, brilhante, mas o atirador encerrou a carreira dessas meninas e meninos.
Rafael queria começar a trabalhar logo
Na sexta, no Cemitério Jardim da Saudade, onde Larissa foi sepultada , amigos da jovem lembraram a alegria da menina.
- Ela era uma garota muito alegre, divertida. Ficam as imagens boas que passei com ela - disse a colega Pâmela Cristina Ferreira Muniz.
Tia de Rafael Pereira da Silva, Keli Monsores conta que o menino adorava computador:
- Sempre foi inteligente. Adorava computador e passava o dia futucando aparelhos.
A mãe abandonou o menino recém-nascido e, após falecimento da avô, Rafael foi criado por quatro irmãos. Ele estava no 9 ano e, segundo parentes, era um empreendedor.
- Ele estava tirando o CPF para trabalhar como menor-aprendiz, num supermercado. Já queria ganhar o dinheirinho dele - contou Wagner Assis da Silva, de 35 anos, irmão de Rafael.
Karine Chagas de Oliveira, 14 anos, adorava esportes e era vaidosa. Recentemente, passou a fazer aulas de atletismo no quartel da PM de Sulacap. Segundo a tia da menina, Ana Sampaio, Karine, que vivia com a avó, queria ser atleta. Na próxima semana, ela participaria de uma prova no Estádio Célio de Barros, no Maracanã.
Debulhado em lágrimas, o militar do exército Raymundo Nazareth Freitas da Silva, de 46 anos, emocionou-se ao falar de Ana Carolina Pacheco da Silva, de 13 anos, sua filha, uma das vítimas.
- Ela era linda, linda, linda. Muito meiga. Era a minha princesinha.
De acordo com o pai, Ana Carolina "queria mudar o mundo e só trazia alegrias".
- Ela estava ensaiando uma peça para apresentar na Páscoa com o irmão. Agora, não sabemos como vamos passar a Páscoa...
COLABOROU: João Paulo Gondim
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