30 de abr. de 2011

Angola

"Angola:Para onde querem conduzir o País"

 “Uns vivem na sofreguidão de alterar a Constituição da República para constituir uma monarquia familiar partidária (como era nos velhos tempos do comunismo), outros tentam, pela primeira vez na História da Humanidade, apagar o passado. Diz o povo que Deus só nos dá o peso que podemos aguentar. Desta vez, ao que me parece, Ele distraiu-se e carregamos um pouco mais.”[ Palestra com os meus sobrinhos.]

Enquanto confabulava com os meus sobrinhos sobre a queda compulsiva do poder do Presidente cessante da Costa do Marfim, o carrapato Laurent Gbagbo, vinha-me à memória a frase de um clérigo português que, durante uma homilia em terras de Camões, dizia as seguintes palavras dignas de realce:
“A época é de mudança, e por isso, mais do que nunca, é necessário encontrarmos tempo para reflectir, para criarmos distância em relação aos nossos interesses egoístas, mesquinhos e míopes, para ultrapassar a emotividade das reacções primárias e de apoio ou contestação e ganhar a perspectiva do todo de que somos parte integrante, actores e não meros espectadores. Corremos o risco de perder o pé se não formos capazes de, individual e colectivamente, pararmos para escutar a pergunta: Para onde vais? Para onde vamos?”
Deixemos as peripécias da novela “Costa do Marfim” para outro café a ser servido proximamente, aqui no jornal Wamphula Fax, por agora urge falar de outras duas novelas picantes e não menos importantes do país, estas, sem fim à vista. A primeira diz respeito a intenção da bancada parlamentar da Frelimo em mexer na Constituição da República para permitir que todos os “camaradas da velha guarda”, sobretudo os de Nachingweia, cheguem ao poleiro, antes que os ventos de mudanças do Magreb obriguem a novas rotinas e a cálculos difíceis de esboçar.
Não é por mero acaso que o desespero tomou conta de alguns camaradas que, no lugar de curtirem a aposentação ou cuidarem dos seus, voltaram a vestir a farda empoeirada e a calçarem as botas do período da descolonização de modo a que o partidão não saborei nunca os duros e desconfortantes bancos da Oposição e, no mais, para que a roleta da sorte lhes permita, um dia, aspirar com a Ponta Vermelha. De resto, foi para isso que alguns deles lutaram. Quando uns diziam “não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”, outros, a maioria deles, diziam o contrário. Queriam apenas saciar as suas ambições mesquinhas e míopes, tal como acontece nos dias de hoje, aliás.
Quando leio e releio a Constituição em vigor (aprovada em 2004) não vejo uma única vírgula a mais que alterasse a lógica dos artigos que a compõe. Nada.
Também não vejo (a não ser que mande de encomendar óculos de cristais para ver ainda melhor) alguma irregularidade nos textos que merecesse uma revisão.
Nada. Nunca ninguém, até então, colocou em causa a imparcialidade da “Lei-Mãe”. Nada. A clareza e objectividade estão bem visíveis na nossa Constituição.
De uns tempos a esta parte tenho aqui dito sistematicamente que a Constituição de qualquer país, a nossa não foge à regra, são semáforos em auto-estradas ladeirosas. Pena é que, para o caso do nosso país, nem todos a obedecem.
Quantos não a pontapeiam? Incluindo aqueles que a deviam fiscalizar.
Portanto, se a CRM está perfeita, corresponde as necessidades do país, então porquê mexer nela 6 anos depois da sua aprovação? Sem plebiscito nem justificação plausível, porquê mexer em algo que une os moçambicanos? O que é que a CRM tem de errado para despertar na Frelimo a necessidade de alterá-la?
Alterar o quê? Ainda que mal pergunte: é mudando de postes que a baliza deixa de ser baliza? Afinal o que é que move a Frelimo para querer mudar, unilateralmente, a Lei-Mãe? Parece que teremos que mudar de Constituição de cinco em cinco anos, ou melhor, sempre que um inquilino da Ponta Vermelha estiver para entrar ou sair do poder? Isto só visto em partidas de atletismo na modalidade de Estafeta. Para tudo isto há uma explicação:
GULA PELO PODER.
Sabe-se que esta intenção da Frelimo foi inspirada e importada de Angola, quando o MPLA decidiu, em 2010, à revelia da Oposição, mexer na Constituição angolana com o intuito de fazer de Angola uma dinastia de Dos Santos e dos seus acólitos. Os maus exemplos contagia-se, é caso para dizer que os dois movimentos de libertação nacionais trocaram de veneno para as suas presas.
Com maioria absoluta parlamentar (as maiorias absolutas quando não perpetuam os ditadores, acabam por fazem novos ditadores e, portanto, não pode haver democracia com maiorias absolutas, esta é a minha percepção) que ninguém tenha dúvida que este desiderato da Frelimo será cumprido. A teimosia é campeã naquele partido. Podem esperar que essa vontade, ainda que obscura, não vai trazer cestas básicas para a população, pelo contrário, será motivo mais que suficiente para a tirar.
A segunda novela é a Renamo. Afonso Dhlakama já é uma novela em pessoa.
Às vezes comporta-se como um líder desnorteado, cujo comportamento reflecte falta de reflexão e insanidade mental.
Em cada seis meses, sempre que a estiagem começa a golpear a sua algibeira, é Dhlakama que vem a público ameaçar paralisar o país. Semana passada voltou a deixar o país em suspense, na verdade, irritado com as suas bobices de circo.
Ameaçou fazer arder o país em 24 horas, caso a Frelimo (âncora do governo) não abrisse a mão do Acordo Geral de Paz (AGP) assinado em Roma a 4 de Outubro de 1992. Mais uma vez caiu no ridículo.
Dhlakama deve saber separar o AGP (de que é signatário) com os acordos que ele firma, diariamente, com os seus “parceiros de quiosques”. Não pode querer negociar a paz em troca de seus apetites estomacais. O AGP não é, nunca foi e jamais será um instrumento de decoração de nenhum partido político, de nenhuma individualidade do Estado, de ninguém. Ninguém pode reivindicar a paternidade do AGP. Uma vez assinado o AGP dá-se a “sepultura das mágoas do passado”, servindo-se dela, apenas, para promover a paz.
PORTANTO, ESTA NÃO É ALTURA PARA DISCUTIR O AGP SOB PENA DE ABRIR FERIDAS JÁ SARADAS. OS POLÍTICOS E OS GOVERNANTES PODEM ATÉ OU TENTAR ESQUECER O PASSADO QUE PASSOU, MAS AS VIÚVAS E OS ÓRFÃOS JAMAIS ESQUECERÃO OS QUE TOMBARAM PELA PAZ, PELA PÁTRIA.
A Renamo teve tempo que bastasse para discutir aquilo que assinou e concordou.
Este não é tempo de mexer no vespeiro.
É tempo de fazer “novas guerras”, “novas batalhas”, de traçar novas estratégias, enfim, é tempo de paz. As únicas armas possíveis são os argumentos vivos, os valores democráticos, a dinâmica, a habilidade, etc. Não basta dizer que a Frelimo é guisado ou assado, se a Renamo não é capaz de fazer a diferença.
Dhlakama perdeu norte, perdeu a confiança do seu eleitorado, do povo em geral. Quando se perde a confiança com numa pessoa, dizia José Régio, não são as palavras destas que servem para repor tudo na forma primitiva. Para o povo, Afonso Dhlakama (como político) acabou.‘Kockikuro’ (obrigado).

Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas

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