26 de mar. de 2011


Há hoje mais civis mortos pelas mãos de Obama, Cameron e Sarkozy ou em Benghazi que mortos pelas mãos de Gaddafi. 

 

O ocaso da odisséia


  Beppe Grillo’s

Não há nada de humanitário no que estão fazendo: são atos de guerra. Guerra suja por energia, petróleo, gás. A França, que depois de Fukushima já não tem futuro nuclear, precisa de gás e petróleo.

Pelo menos desde o tempo do massacre de Ustica[1], França e Itália lutam pelo controle do petróleo da Líbia, quando os céus da Itália viraram teatro da guerra com a França, aviões italianos e Gaddafi, que estava apresente e safou-se por um fio. 
Gaddafi foi apoiado pelos italianos nos anos 70s,forrmado pelos italianos. Parte do exército da Líbia foi treinado na Itália em troca de relações privilegiadas para comprarmos gás e petróleo.
Essa é guerra ensandecida que os europeus não desejam. Do modo como os italianos foram informados, não passaria de notícia de rodapé nos noticiários, como uma partida de futebol. China e Rússia são contra os ataques. A Alemanha absteve-se no CSONU e a União Africana rejeitou “qualquer tipo de intervenção estrangeira na Líbia, seja de que tipo for.” O presidente da Mauritânia Abdel Aziz disse bem claramente: “é crise gravíssima que se abate sobre um país irmão e que exige solução africana”. O presidente Aziz disse também que “nenhum representante da União Africana participou do encontro internacional sobre a Líbia, em Paris”.

O CSONU aprovou “uma zona aérea de exclusão”. Não aprovou bombardeio que reduzisse a Líbia a ruínas. Centenas de mísseis disparados por EUA e britânicos contra “alvos”, numa operação batizada de “Alvorada da Odisseia”.

Linguagem de videogame. Não é alvorada. É ocaso: o ocaso da odisséia.

Há hoje mais civis mortos pelas mãos de Obama, Cameron e Sarkozy ou em Benghazi que mortos pelas mãos de Gaddafi. Talvez os líbios mortos por mãos líbias valham, cada morto, duas mortes?

O art. 11 da constituição da Itália diz que “a Itália rejeita a guerra como instrumento de agressão contra as liberdades de outros povos e também como meio para resolver controvérsias internacionais (...).”  Por que os partidos políticos não estão nas ruas, brandindo a Constituição, contra a guerra?
Estamos bombardeando uma nação muçulmana africana. Nenhuma nação, nem muçulmana nem africana participa do ataque “internacional” das potências ocidentais, ao lado dos “cruzados”, como Gaddafi os chama.

A Arábia Saudita invadiu o Bahrain, agitado por manifestações populares contra a ditadura. Quando começará o ataque dos “cruzados” contra os ditadores-xeiques?

Gaza foi convertida em cemitério. Ninguém considerou necessária qualquer intervenção humanitária. A Itália é um porta-aviões cercado de navios canadenses, americanos e britânicos que entram e saem de nossos portos. Com que direito? Somos país de soberania limitadas, mas o que está acontecendo é demais.

Fora! Fora da Itália as bases dos EUA, antes que seja tarde demais! O que sabemos sobre os rebeldes de Benghazi? Opõem-se a Gaddafi por quê? Por razões democráticas, tribais, econômicas ou religiosas? Propõem o quê, para a Líbia? Nada sabemos. Nada.

Qualquer um aí, que precise de petróleo, que lance o primeiro Tomahawk, para carregar a responsabilidade do ataque. Em seguida os EUA lançaram 110 Tomahawks, para completar o serviço.



[1] Sobre o conflito entre Itália e França pelo controle dos recursos energéticos no norte da África. Segundo Priore e Fasanella (autores do livro Intrigo internazionale), esse seria o pano de fundo do massacre de Ustica. Um avião italiano de passageiros explodiu, em circunstâncias jamais esclarecidas, sobre a cidade de Ustica, dia 27/6/1980. Suspeita-se de que tenha sido abatido por um caça francês. Em 2008, a Itália reabriu as investigações sobre o caso (TG2 Punto di vist

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